Troque o stress e a depressão pela <i>Vida Real</i>
Autoramas lançam seu segundo álbum, gravado ao vivo no estúdio com direito a cover da Blitz
Marco Antonio Barbosa
15/08/2001
Quem diria que a cura para o stress, a depressão e a síndrome do pânico passaria por um mergulho na vida real? Não, não se trata de receita de livro de auto-ajuda, e sim um resumo da carreira do power-trio Autoramas, interpretada pelos títulos de seus dois álbuns: Stress, Depressão e Síndrome do Pânico (do ano passado) e o novíssimo Vida Real (Astronauta / Universal). Passada a novidade do primeiro álbum, quando despontaram como banda-revelação - saídos direto do underground carioca para uma grande gravadora, em pouco mais de um ano de existência - Gabriel Thomaz (guitarra e voz), Simone do Vale (baixo e voz) e Bacalhau (bateria) ainda são os mesmos. O que não é sinônimo de mesmice.
"O nome do disco é Vida Real porque retrata a nossa realidade, em diferentes sentidos", explica Gabriel, compositor das letras da banda. Real, em primeiro lugar, porque foi gravado ao vivo no estúdio, com todo mundo tocando junto, como em um show. "Queríamos mesmo era gravar ao vivo de verdade, registrar um show. Mas na hora de calcularmos os custos, vimos que iria ficar uma fortuna. Daí resolvemos manter os planos, só que fazendo tudo no estúdio. Ensaiamos para caramba - mais do que nunca - para tocar tudo direitinho, e nos preparamos muito bem", conta Gabriel. Foram seis meses de trabalho duro.
"Mostramos que sabemos tocar direito. Ficou bem com a energia de nossos shows, que todo mundo sempre elogiou", acrescenta Bacalhau. O álbum acabou sendo gravado em dois dias e meio de estúdio, no começo do ano. Não é por ser um disco ao vivo (ou quase) que Vida Real se escora em canções antigas. O repertório de 14 músicas tem 12 novas, e duas regravações do primeiro álbum (Autodestruição e Carinha Triste). "Essas regravações são mesmo bonus tracks, presentes para os fãs", diz Gabriel. "Elas na verdade ficam até à parte no CD, destoam mesmo do conjunto das novas."
Nem tanto, Gabriel. Na primeira audição, Vida Real apresenta tão somente os mesmos ingredientes do disco de estréia: composições pop influenciadas pela surf music, o som bubblegum dos anos 60 e as batidas new wave de grupos como o B-52's ou o Devo. Personalizando o som do grupo, as inconfundíveis letras de Gabriel - irônicas e ácidas observações sobre as pequenas mazelas dos relacionamentos modernos. Nada mudou, então? "O som é basicamente o mesmo, mas acrescentamos outras ideías às letras. Todo mundo comenta sobre as letras, é sempre foi um diferencial dos Autoramas", fala Gabriel. Simone ressalta: "Tivemos neste disco a necessidade de falar de outras coisas - de amor, por exemplo. No primeiro (álbum) a gente praticamente só falou de pessoas e sentimentos ruins."
Assim, os novos/velhos Autoramas acrescentaram romance à sua trilha sonora (em Copersucar e Sonhador), mas seguem esculhambando os deslumbrados (Eu Era Pop) e paranóicos (Paciência); reafirmam sua personalidade (A História da Vida de Cada Um) e batalham pela auto-afirmação (Minha Guerrilha Particular). "Temos ideías de fazer outras coisas, experimentar outros sons. Mas isso vai vir com o tempo. O importante é que nunca estivemos ligados em nenhuma moda passageira. Acho que sempre vamos nos ater ao denominador comum da música pop, que é compor canções. Cada banda tem seu estilo próprio, mas o formato da canção - o refrão, a melodia, a estrutura - não muda nunca", opina Gabriel.
E o disco tem covers, também. Inusitadas, aliás: Você Não Soube Me Amar (sim, o primeiro hit da Blitz) e Aquela, na verdade um auto-cover, já que é uma música do Little Quail & The Mad Birds (a primeira banda de Gabriel). "Adoramos a Blitz, é uma banda que sempre teve tudo a ver com a gente, mesmo que possa não parecer. Somos muito influenciados por aquela época da música pop", diz Simone. Gabriel emenda: "E é uma música que tem vocal feminino e masculino, o que é ideal para os Autoramas. Além do mais, a música é um marco, um símbolo do estouro do rock brasileiro nos anos 80." E Bacalhau arremata: "E nunca foi regravada! Em 19 anos, é a primeira vez que alguém faz uma versão de uma música da Blitz!" Simone conta uma historinha divertida: "Começamos a tocar Você Não Soube Me Amar e notamos que muita gente jovem não conhecia a música. Teve um garoto que veio me perguntar qual era 'aquela música do B-52's que vocês fizeram versão em português', se referindo à música da Blitz!"
O dueto encenado por Evandro & Fernandinha - ops, Gabriel & Simone - na música da Blitz puxa outra evidência do disco: a baixista está cantando bem mais, marcando presença especialmente em Paciência, Minha Guerrilha Particular e cantando solo em Rio-São Paulo. "É que eu fiz análise e me assumi como vocalista", brinca Simone, que antes dos Autoramas era vocalista do grupo Dash. Gabriel completa: "Era para ser assim desde o começo, só que no primeiro disco a entrada do vocal dela não ficou tão bem resolvida." O outro cover, Aquela, que fez mais sucesso com os Raimundos (no álbum Só no Forévis ), tem sua presença justificada por Gabriel: "Ah, deu vontade de gravar... é uma música boa, e fui eu quem compus. Não tinha razão para não botar, não tenho complexos em relação ao passado."
Jogados na vida real, os Autoramas agora podem enfrentar a cobrança de um maior retorno comercial para seu rock'n'roll. Stress... foi bem recebido pela crítica e expôs a banda na mídia, mas não chegou a ter boa execução em rádios e TV. "Bom, se o sucesso rolar, acho lindo. Se não rolar, acho lindo da mesma maneira", afirma Gabriel. O grupo parece mais preocupado em tocar sua própria evolução. "Já tenho algumas músicas novas prontas. Vamos continuar tentando capturar a energia do nosso som ao vivo para nossos discos", afirma o guitarrista e cantor.
"O nome do disco é Vida Real porque retrata a nossa realidade, em diferentes sentidos", explica Gabriel, compositor das letras da banda. Real, em primeiro lugar, porque foi gravado ao vivo no estúdio, com todo mundo tocando junto, como em um show. "Queríamos mesmo era gravar ao vivo de verdade, registrar um show. Mas na hora de calcularmos os custos, vimos que iria ficar uma fortuna. Daí resolvemos manter os planos, só que fazendo tudo no estúdio. Ensaiamos para caramba - mais do que nunca - para tocar tudo direitinho, e nos preparamos muito bem", conta Gabriel. Foram seis meses de trabalho duro.
"Mostramos que sabemos tocar direito. Ficou bem com a energia de nossos shows, que todo mundo sempre elogiou", acrescenta Bacalhau. O álbum acabou sendo gravado em dois dias e meio de estúdio, no começo do ano. Não é por ser um disco ao vivo (ou quase) que Vida Real se escora em canções antigas. O repertório de 14 músicas tem 12 novas, e duas regravações do primeiro álbum (Autodestruição e Carinha Triste). "Essas regravações são mesmo bonus tracks, presentes para os fãs", diz Gabriel. "Elas na verdade ficam até à parte no CD, destoam mesmo do conjunto das novas."
Nem tanto, Gabriel. Na primeira audição, Vida Real apresenta tão somente os mesmos ingredientes do disco de estréia: composições pop influenciadas pela surf music, o som bubblegum dos anos 60 e as batidas new wave de grupos como o B-52's ou o Devo. Personalizando o som do grupo, as inconfundíveis letras de Gabriel - irônicas e ácidas observações sobre as pequenas mazelas dos relacionamentos modernos. Nada mudou, então? "O som é basicamente o mesmo, mas acrescentamos outras ideías às letras. Todo mundo comenta sobre as letras, é sempre foi um diferencial dos Autoramas", fala Gabriel. Simone ressalta: "Tivemos neste disco a necessidade de falar de outras coisas - de amor, por exemplo. No primeiro (álbum) a gente praticamente só falou de pessoas e sentimentos ruins."
Assim, os novos/velhos Autoramas acrescentaram romance à sua trilha sonora (em Copersucar e Sonhador), mas seguem esculhambando os deslumbrados (Eu Era Pop) e paranóicos (Paciência); reafirmam sua personalidade (A História da Vida de Cada Um) e batalham pela auto-afirmação (Minha Guerrilha Particular). "Temos ideías de fazer outras coisas, experimentar outros sons. Mas isso vai vir com o tempo. O importante é que nunca estivemos ligados em nenhuma moda passageira. Acho que sempre vamos nos ater ao denominador comum da música pop, que é compor canções. Cada banda tem seu estilo próprio, mas o formato da canção - o refrão, a melodia, a estrutura - não muda nunca", opina Gabriel.
E o disco tem covers, também. Inusitadas, aliás: Você Não Soube Me Amar (sim, o primeiro hit da Blitz) e Aquela, na verdade um auto-cover, já que é uma música do Little Quail & The Mad Birds (a primeira banda de Gabriel). "Adoramos a Blitz, é uma banda que sempre teve tudo a ver com a gente, mesmo que possa não parecer. Somos muito influenciados por aquela época da música pop", diz Simone. Gabriel emenda: "E é uma música que tem vocal feminino e masculino, o que é ideal para os Autoramas. Além do mais, a música é um marco, um símbolo do estouro do rock brasileiro nos anos 80." E Bacalhau arremata: "E nunca foi regravada! Em 19 anos, é a primeira vez que alguém faz uma versão de uma música da Blitz!" Simone conta uma historinha divertida: "Começamos a tocar Você Não Soube Me Amar e notamos que muita gente jovem não conhecia a música. Teve um garoto que veio me perguntar qual era 'aquela música do B-52's que vocês fizeram versão em português', se referindo à música da Blitz!"
O dueto encenado por Evandro & Fernandinha - ops, Gabriel & Simone - na música da Blitz puxa outra evidência do disco: a baixista está cantando bem mais, marcando presença especialmente em Paciência, Minha Guerrilha Particular e cantando solo em Rio-São Paulo. "É que eu fiz análise e me assumi como vocalista", brinca Simone, que antes dos Autoramas era vocalista do grupo Dash. Gabriel completa: "Era para ser assim desde o começo, só que no primeiro disco a entrada do vocal dela não ficou tão bem resolvida." O outro cover, Aquela, que fez mais sucesso com os Raimundos (no álbum Só no Forévis ), tem sua presença justificada por Gabriel: "Ah, deu vontade de gravar... é uma música boa, e fui eu quem compus. Não tinha razão para não botar, não tenho complexos em relação ao passado."
Jogados na vida real, os Autoramas agora podem enfrentar a cobrança de um maior retorno comercial para seu rock'n'roll. Stress... foi bem recebido pela crítica e expôs a banda na mídia, mas não chegou a ter boa execução em rádios e TV. "Bom, se o sucesso rolar, acho lindo. Se não rolar, acho lindo da mesma maneira", afirma Gabriel. O grupo parece mais preocupado em tocar sua própria evolução. "Já tenho algumas músicas novas prontas. Vamos continuar tentando capturar a energia do nosso som ao vivo para nossos discos", afirma o guitarrista e cantor.