Um <i>Outro</i> Jairzinho - agora Jair - Oliveira
Cantor e compositor assume seu nome de batismo ao lançar segundo álbum - mais centrado no samba e com canja de Ed Motta
Marco Antonio Barbosa
11/04/2002
O segundo disco de um artista (relativamente) iniciante é um momento que pede um arriscado pulo do gato: tornar-se outro sem deixar de ser o mesmo. Pura retórica? Vai perguntar isso a Jairzinho, aliás, Jairzinho Oliveira, aliás, Jair Oliveira - filho de Jair Rodrigues, ex-parceiro de Simony no Balão Mágico, irmão de Luciana Mello e, mais recentemente, consagrado como uma das mais gratas revelações da MPB no fim da década passada. O status que o moço conquistou com o álbum Dis'ritmia , de 1999, será posto à prova agora com o lançamento de seu segundo disco, chamado justamente Outro (Trama). O nome do novo CD aparentemente promete grandes mudanças - a mais clara de todas, a mudança no nome artístico - mas encerra uma verdade muito mais óbvia: trata-se de um outro disco do mesmo artista. O próprio Jairzinho - ops, Jair - garante que sua mistureba de samba, soul, acid jazz, funk e pop continua como antes: mirando no futuro da MPB.
A quem pergunta a ele "ué, mas por que trocar de nome?", Jair responde com típica tranqüilidade: "Eu não mudei de nome. Só adotei o nome que já era meu mesmo!" O cantor conta ao Cliquemusic que já houve gente teorizando sobre sua hipotética "vontade de parecer mais maduro" e coisa e tal. "Nada a ver, não tenho rancor nem fico chateado de ter sido conhecido por tantos anos como Jairzinho. Eu já tinha uma história com este nome. Até porque, Jair mesmo só vai ter um, o meu pai..." fala o compositor, de 27 anos. "Quando lancei o primeiro disco, só resolvi aparecer como Jairzinho por achar que as pessoas poderiam não se ligar de cara em quem eu era. Mas não dependo do nome para me achar maduro ou não. O fato é que, realmente, eu me sinto mais maduro, como compositor e como intérprete."
Outro chega dois anos após Dis'ritmia, um dos mais aclamados projetos do coletivo Artistas Reunidos. Como no álbum anterior, Jair passeia pelo lado black da MPB com desenvoltura, seguindo as pegadas marcadas em 2000. "Não quero me distanciar do que fiz no primeiro disco", conta Jair. "Sempre penso na idéia de uma 'assinatura' musical, uma identidade, uma unidade. Outro fortalece esta assinatura. As influências são as mesmas, o meu raciocínio na hora de compor e tocar também." Também como em Dis'ritmia, Jair produz e arranja o álbum, toca vários instrumentos (violão, sintetizadores, piano, samplers) e compôs sozinho quase todas as músicas - com exceção de uma.
A única parceria de Jair no álbum é com Ed Motta, que cantou e co-escreveu Amor e Saudade. A união da dupla não chega a ser surpresa, visto que Ed foi um dos mais entusiasmados defensores de Dis'ritmia. "O Ed se identificou muito com o meu trabalho, o que foi incrível, pois ele sempre foi uma de minhas maiores influências. Acabamos virando amigos, fazendo shows juntos, e no ano passado ele me enviou uma fita com algumas idéias, alguns temas musicais. Eu escolhi um deles, dei uma mexida, mostrei para ele, demos mais alguns toques e a música estava pronta", conta Jair.
A já citada desenvoltura do artista reunido se espraia em várias vertentes. Em Outro há soul (Bom Dia, Anjo, Sou Teu Nego), modern r'n'b (Frio Pra Bem Longe) e funk (Vai e Volta), tudo com sotaques abrasileirados. Mas é no samba que Jair Oliveira parece se esbaldar com mais propriedade. Tanto é que, numa primeira audição, pode-se citar Falso Amor, Sorriso Pra Te Dar, Dor de Ressaca, Minuto de Silêncio - esta em puro clima de samba-soul e Uma Outra Beleza (sambinha 100% ortodoxo) entre os destaques do álbum.
"É um disco mais sambístico sim", confirma Jair. "Ainda tem acid jazz, influências black, mas no Dis'ritmia havia menos samba. E no entanto, sinto que no disco novo esses elementos da minha música estão mais bem posicionados, apesar da primazia do samba." O approach de Jair ao samba é diferente de seus companheiros reunidos, como Max de Castro e Simoninha - que incorporam o batuque mas o revestem de modernidade. "Sou mais ligado à tradição do samba dos anos 60, Paulinho da Viola, Chico Buarque. E também com o morro, Cartola, Carlos Cachaça. Além da minha ligação com o chorinho, que é forte. Sempre tive intimidade com este tipo de som, cresci ouvindo isso. Por isso, acho que quando vou fazer samba, acabo puxando a música para este passado, esta tradição", analisa Jair. Mas ressalta: "A modernidade no meu caso fica com os arranjos. Componho de forma tradicional, mas não deixo de usar a imaginação no instrumental."
Entretanto, a força de outra tradição - a da música black brasileira - ainda pesa sobre o compositor. Nem poderia deixar de ser. "Toda aquela geração dos anos 60 e 70 - Ben, Cassiano, Tim Maia, Robson Jorge - tinha uma das musicalidades mais férteis que o Brasil já viu. Eu conheci tudo isso em primeira mão, através do meu pai, e me vejo em condição de misturar minha música com tudo isso, mostrando estes sons para quem não pôde conhecer na época", afirma Jair. Esta postura bate, mais uma vez, com a intenção dos Artistas Reunidos de resgatar uma geração black brazuca um tanto desvalorizada pela mídia. Jair Oliveira assume isso mas especifica: "Não se trata de levantar uma bandeira pró-negritude - não tem necessidade disso, todo brasileiro é negro também. É pela música mesmo."
Passada a euforia que Dis'ritmia provocou em certos setores da mídia - não exatamente revertida em sucesso nas paradas - Jair Oliveira mantém os pés no chão quanto à repercussão de Outro. "Acho que a indústria musical brasileira traça algumas regras para o público que acabam excluindo coisas interessantes. Meu primeiro disco sofreu uma resistência por parte dos programadores de rádio; diziam que era 'sofisticado demais'. Mas quando finalmente foram ouvir, já no final do trabalho de divulgação, me disseram 'Pô, por que você não trouxe isso antes, é ótimo...'", conta Jair, resignado. Por essas e outras, é que o trabalho do compositor no exterior tem dado muito mais resultado. "Dis'ritmia, a música , chegou a estar em primeiro lugar na rádios de música latina da França. Também tocou muito bem na BBC e na Jazz FM, de Londres. Agora estamos licenciando algumas músicas para coletâneas com vários artistas, e queremos negociar o lançamento dos dois CDs na Europa", narra Jair. A boa repercussão se completou com as apresentações que o cantor fez ano passado em Londres, Nova York e Roma. "Quero que o Brasil me conheça mais. Mas também é hora de aproveitar a boa onda para a música brasileira lá fora", admite Jair.
A quem pergunta a ele "ué, mas por que trocar de nome?", Jair responde com típica tranqüilidade: "Eu não mudei de nome. Só adotei o nome que já era meu mesmo!" O cantor conta ao Cliquemusic que já houve gente teorizando sobre sua hipotética "vontade de parecer mais maduro" e coisa e tal. "Nada a ver, não tenho rancor nem fico chateado de ter sido conhecido por tantos anos como Jairzinho. Eu já tinha uma história com este nome. Até porque, Jair mesmo só vai ter um, o meu pai..." fala o compositor, de 27 anos. "Quando lancei o primeiro disco, só resolvi aparecer como Jairzinho por achar que as pessoas poderiam não se ligar de cara em quem eu era. Mas não dependo do nome para me achar maduro ou não. O fato é que, realmente, eu me sinto mais maduro, como compositor e como intérprete."
Outro chega dois anos após Dis'ritmia, um dos mais aclamados projetos do coletivo Artistas Reunidos. Como no álbum anterior, Jair passeia pelo lado black da MPB com desenvoltura, seguindo as pegadas marcadas em 2000. "Não quero me distanciar do que fiz no primeiro disco", conta Jair. "Sempre penso na idéia de uma 'assinatura' musical, uma identidade, uma unidade. Outro fortalece esta assinatura. As influências são as mesmas, o meu raciocínio na hora de compor e tocar também." Também como em Dis'ritmia, Jair produz e arranja o álbum, toca vários instrumentos (violão, sintetizadores, piano, samplers) e compôs sozinho quase todas as músicas - com exceção de uma.
A única parceria de Jair no álbum é com Ed Motta, que cantou e co-escreveu Amor e Saudade. A união da dupla não chega a ser surpresa, visto que Ed foi um dos mais entusiasmados defensores de Dis'ritmia. "O Ed se identificou muito com o meu trabalho, o que foi incrível, pois ele sempre foi uma de minhas maiores influências. Acabamos virando amigos, fazendo shows juntos, e no ano passado ele me enviou uma fita com algumas idéias, alguns temas musicais. Eu escolhi um deles, dei uma mexida, mostrei para ele, demos mais alguns toques e a música estava pronta", conta Jair.
A já citada desenvoltura do artista reunido se espraia em várias vertentes. Em Outro há soul (Bom Dia, Anjo, Sou Teu Nego), modern r'n'b (Frio Pra Bem Longe) e funk (Vai e Volta), tudo com sotaques abrasileirados. Mas é no samba que Jair Oliveira parece se esbaldar com mais propriedade. Tanto é que, numa primeira audição, pode-se citar Falso Amor, Sorriso Pra Te Dar, Dor de Ressaca, Minuto de Silêncio - esta em puro clima de samba-soul e Uma Outra Beleza (sambinha 100% ortodoxo) entre os destaques do álbum.
"É um disco mais sambístico sim", confirma Jair. "Ainda tem acid jazz, influências black, mas no Dis'ritmia havia menos samba. E no entanto, sinto que no disco novo esses elementos da minha música estão mais bem posicionados, apesar da primazia do samba." O approach de Jair ao samba é diferente de seus companheiros reunidos, como Max de Castro e Simoninha - que incorporam o batuque mas o revestem de modernidade. "Sou mais ligado à tradição do samba dos anos 60, Paulinho da Viola, Chico Buarque. E também com o morro, Cartola, Carlos Cachaça. Além da minha ligação com o chorinho, que é forte. Sempre tive intimidade com este tipo de som, cresci ouvindo isso. Por isso, acho que quando vou fazer samba, acabo puxando a música para este passado, esta tradição", analisa Jair. Mas ressalta: "A modernidade no meu caso fica com os arranjos. Componho de forma tradicional, mas não deixo de usar a imaginação no instrumental."
Entretanto, a força de outra tradição - a da música black brasileira - ainda pesa sobre o compositor. Nem poderia deixar de ser. "Toda aquela geração dos anos 60 e 70 - Ben, Cassiano, Tim Maia, Robson Jorge - tinha uma das musicalidades mais férteis que o Brasil já viu. Eu conheci tudo isso em primeira mão, através do meu pai, e me vejo em condição de misturar minha música com tudo isso, mostrando estes sons para quem não pôde conhecer na época", afirma Jair. Esta postura bate, mais uma vez, com a intenção dos Artistas Reunidos de resgatar uma geração black brazuca um tanto desvalorizada pela mídia. Jair Oliveira assume isso mas especifica: "Não se trata de levantar uma bandeira pró-negritude - não tem necessidade disso, todo brasileiro é negro também. É pela música mesmo."
Passada a euforia que Dis'ritmia provocou em certos setores da mídia - não exatamente revertida em sucesso nas paradas - Jair Oliveira mantém os pés no chão quanto à repercussão de Outro. "Acho que a indústria musical brasileira traça algumas regras para o público que acabam excluindo coisas interessantes. Meu primeiro disco sofreu uma resistência por parte dos programadores de rádio; diziam que era 'sofisticado demais'. Mas quando finalmente foram ouvir, já no final do trabalho de divulgação, me disseram 'Pô, por que você não trouxe isso antes, é ótimo...'", conta Jair, resignado. Por essas e outras, é que o trabalho do compositor no exterior tem dado muito mais resultado. "Dis'ritmia, a música , chegou a estar em primeiro lugar na rádios de música latina da França. Também tocou muito bem na BBC e na Jazz FM, de Londres. Agora estamos licenciando algumas músicas para coletâneas com vários artistas, e queremos negociar o lançamento dos dois CDs na Europa", narra Jair. A boa repercussão se completou com as apresentações que o cantor fez ano passado em Londres, Nova York e Roma. "Quero que o Brasil me conheça mais. Mas também é hora de aproveitar a boa onda para a música brasileira lá fora", admite Jair.