Um <i>sambista raro</i> na Grande Maçã

Max de Castro conta como vai ser seu show no Brazil Fest, festival de música brasileira que ocorre em Nova York

Marco Antonio Barbosa
21/08/2001
Max de Castro nunca fez seu samba raro para gringo ouvir. Mas o cantor e compositor, apontado mais de uma vez como "O" grande talento da nova geração da música brasileira (sem enxergar distinções entre pop brazuca e MPB), não esconde a empolgação que sente por se apresentar pela primeira vez em Nova York. Vai ser no próximo domingo, dia 26; Max será uma das estrelas do Brazil Fest, evento organizado por Nelson Motta para mostrar à Big Apple um pouco do melhor de nossa música. O filho de Wilson Simonal embarca amanhã (dia 23) para os EUA, e vai se apresentar junto a Jairzinho de Oliveira, representando a porção moderna do samba. Na mesma noite ainda passam pelo palco do Lincoln Center Dona Ivone Lara (representando o samba tradicional) e um combo formado por Dom Salvador, Claudio Roditi, Duduka Fonseca e Nilson Matta (fazendo as honras do samba-jazz).

"Vai ser meu primeiro show para valer no exterior. Ano passado eu toquei em Londres, mas foi diferente; só fui eu e um DJ. Desta vez vou levar minha banda, vamos fazer o show inteiro, como a gente faz aqui", fala Max sobre a viagem. Acompanhando-o, estarão o DJ Eugênio Lima, o baterista Tuto Ferraz, o percussionista Fred Prince, o baixista Serginho Carvalho e os pianistas Marcos Xuxa Levy e Marcelo Maita. "Tocar no mesmo palco e na mesma noite que o (pianista) Dom Salvador também é uma grande emoção. Ele é um dos meus ídolos", afirma Max sobre o ícone da música negra brasileira.

A excitação do cantor/compositor/multiinstrumentista/produtor aumenta ao saber que vai se apresentar para um público totalmente novo. "O Brazil Fest chama a atenção basicamente de americanos. Não é aquela coisa restrita, de ir lá e tocar só para a colônia brasileira", ressalta Max. Por isso mesmo, o show que o público novaiorquino deverá assistir é o mesmo da turnê Samba Raro, baseado no álbum homônimo ouvir 30s. "A grande novidade, para mim e para quem vai me ouvir, é justamente a minha presença. Não teria porque fazer um show totalmente novo, já que as músicas do disco ainda são desconhecidas dos americanos", explica Max.

A MPB esquema novo de Max não ficará desconhecida dos gringos por muito mais tempo. Samba Raro foi lançado no começo deste ano no Japão, e a gravadora Trama acaba de firmar parcerias com selos europeus e americanos para distribuir o álbum nesses mercados. "O disco foi resenhado por jornais espanhóis e ingleses, com muitos elogios", conta Max. "Além do mais, fui entrevistado duas vezes pela (revista americana) Time só para falar do Samba Raro. Há um interesse muito grande de músicos e DJs estrangeiros no que há de contemporâneo na MPB, uma curiosidade sobre coisas novas." A mistura de samba, soul, funk e eletrônica armada por Max certamente causa espanto - e delícia - aos gringos.

Nova York terá o prazer de conferir algumas canções incorporadas há pouquíssimo tempo ao repertório de Max e sua banda. Como Duas Bailarinas e Um Flash (ambas de Samba Raro, mas que ganharam novos arranjos, bem diferentes dos originais) e um cover de Me Deixa, do grupo O Rappa. Além de uma única amostra do que o compositor está preparando para seu próximo álbum: a inédita A Paz que Você Deu pro Meu Coração, que segundo Max foi incluída no show por "imposição de Nelson Motta".

"O Nelson assistiu um show meu no qual eu apresentei A Paz..., ainda num estado de evolução da música - na verdade o título definitivo pode nem ser este. Daí no camarim, depois do show, ele me perguntou 'De quem era aquela balada linda que você tocou? Eu conheço essa música, só não sei de quem é...' Quando eu disse que era minha, ele ficou pasmo!", narra Max. "Daí, quando ele me convidou para tocar no Brazil Fest, me disse que a única condição que ele me iria me impor era que eu tocasse A Paz.... Então eu toco!"

Max esconde o jogo na hora de revelar os planos do disco que vai suceder Samba Raro. "Meu plano era começar a trabalhar no próximo álbum agora em agosto, mas tive vários compromissos um em cima do outro e acabou não dando tempo. Começar eu já comecei, só quero agora poder me dedicar de verdade. Na volta da viagem é que eu vou definir direito." Não falta muito tempo: Max volta para o Brasil no dia seguinte a sua apresentação em Nova York.

A curta estadia será bem aproveitada, garante o cantor - colhendo frutos plantados há pouco tempo. "Estive em Nova York no mês passado e entrei em contato com muita gente, músicos, produtores, DJs. Pode haver até a incorporação de músicos americanos ao meu próximo trabalho", diz Max. Entre as possibilidades de intercâmbio cultural, o irmão de Simoninha fala em "expandir as parcerias" e cita a cantora e baixista Me'Shell N'Dgeocello - grande nome do soul/funk americano contemporâneo - como possível colaboradora. "Sou muito amigo de um músico que trabalha com ela, e através dele Me'Shell acabou conhecendo meu trabalho e gostando", conta Max. "Eu também curto muito o som dela e há uma vontade concreta de fazermos algo juntos."

Essa "vontade concreta" de fazer coisas em conjunto também está no cerne dos "vários compromissos" que acabaram adiando a dedicação exclusiva ao novo álbum. Contumaz colaborador em trabalhos de outros artistas, Max está presente em dois lançamentos recentíssimos: Amor Pra Recomeçar ouvir 30s , o disco solo de Roberto Frejat, e Totonho & Os Cabra ouvir 30s, CD de estréia do homônimo projeto vindo da Paraíba. "E também já participei do próximo disco do Otto, que deve sair ainda este ano", fala Max. "O que acontece é que a (gravadora) Trama aproxima muito seus artistas uns dos outros. Todo mundo vive se encontrando na sede da gravadora, o clima é muito descontraído, todos sabem no que cada um está trabalhando. Então rola uma vontade natural de participar na música dos outros."