Um duo ilustre em passagem pelo Brasil
Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo mostram em curta turnê as músicas do disco instrumental que gravaram em dupla
Marco Antonio Barbosa
18/03/2003
Bons filhos, à casa sempre haverão de tornar. E a máxima vale até mesmo para músicos de talento consagradíssimo no exterior - mais precisamente nos EUA - mas que passam quase em brancas nuvens por aqui. A dupla Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo estão no Brasil desde a semana passada, divulgando o álbum Duo, lançado pela Trama no fim do ano passado mas que apenas agora recebe um tratamento de gala, com a presença dos "pais da criança" em shows no Rio e São Paulo. A capital fluminense pôde conferir a performance de Cesar (piano) e Romero (violão) no último fim de semana, num total de quatro shows no Mistura Fina; Sampa verá a dupla amanhã (dia 19) e na quinta-feira, no Sesc Vila Mariana.
Duo é a concretização, em CD, de uma afinidade musical que já vem desde 1996, quando, convidado a participar do Festival de Jazz de Montreux, Cesar Camargo Mariano convocou Romero Lubambo a integrar sua banda. "Logo depois de me mudar para os EUA (o músico vive lá desde 1994) eu e o Romero ficamos muito amigos e quando me chamaram para tocar em Montreux, na hora eu pensei nele", diz Cesar. Lubambo, radicado em Nova York há 18 anos, já era na época uma referência no cenário do Brazilian Jazz, mesclando a ginga brasileira com o virtuosismo e a tônica improvisativa do jazz. Integrado ao quarteto de Cesar, o violonista se entrosou especialmente com o pianista. "Já no show do festival fizemos dois números em dueto piano e violão. Pintou uma grande identificação musica, uma sintonia muito forte ", lembra Cesar.
Na verdade, a ligação entre a dupla poderia até mesmo datar de antes do encontro físico. "Eu já conhecia todo o trabalho do Cesar e gostava em especial do disco Samambaia, gravado com o Hélio Delmiro - não por acaso, também só de piano e violão", contou Lubambo à epoca do lançamento de Duo. Samambaia, lançado em 1981, é considerado hoje um clássico no entrosamento entre cordas (de nylon) e teclas. E Delmiro foi um dos professores de Lubambo, nos anos 70. "Eu sabia todos os arranjos das músicas de cor", fala Romero, e foram justamente duas faixas de Samambaia - a canção-título e Curumim - as músicas que deram o pontapé inicial do duo Mariano/Lubambo, naquele Montreux-96.
O roteiro dos shows que a dupla está mostrando no Brasil segue basicamente o repertório do disco, que foi gravado em Nova York no ano passado. "Vinhamos fazendo vários shows em duo, apurando a seleção de músicas, mas só quando o João (Marcello Bôscoli, diretor da Trama e considerado por Mariano como um filho) sugeriu que nós gravássemos é que a ficha caiu, relembra Cesar. A complexidade no acerto entre piano e violão evidenciou-se no estúdio. "São instrumentos de condução muito diferente entre si, ainda mais sendo piano acústico e violão de nylon. Tem de haver identificação total entre os músicos", diz Cesar. A prova desta identificação foi a rapidez com que o disco foi gravado: uma tarde. "Gravamos duas vezes cada música, seguindo o mesmo roteiro do show. A dinâmica que acontece no palco, aquela energia, aquela vibração; era o que a gente queria que fosse pro disco", reafirma Cesar.
E o que há, afinal, neste show que virou disco que virou show? Muitos temas alheios, como Samba Dobrado, de Djavan ("Essa versão nasceu de um groove que eu e o Romero costumávamos tocar. Só depois é que encaixamos a música", diz Cesar), duas de Tom Jobim, Fotografia e Wave ("Era o improviso com que fechávamos os shows", fala o pianista) e April Child, de Moacir Santos. Curiosidades como Era Bom, samba de Hianto de Almeida e Macedo Neto que revelou Elza Soares nos anos 60, e O que É, o que É, jingle composto por Cesar para a montadora de carros Chevrolet nos anos 80, também entram na brincadeira.
"A escolha das músicas se deu por causa das levadas, das harmonias e batidas que nos empolgavam. O repertório foi sendo decidido em função do nosso som, da nossa dobradinha, das sugestões que um dava ao outro", diz Cesar. Isso evidencia-se mais ainda nos temas compostos pela dupla para o disco, como Choro#7 (que tem direito a citação de Aquarela do Brasil), Short Cut e na levada funkeada de Mr.Jr.. Enfim, uma mistura única na qual ora sobresssaem-se os solos sutis e melodiosos do piano, ora os ataques mais percussivos e jazzy do violão, mas acima de tudo a bela fusão entre os talentos às vezes contrastantes de Cesar e Lubambo.
Após a curta turnê brasileira, a dupla arruma as malas e volta para Nova York. "Por motivos profissionais, não penso na hipótese de voltar ao Brasil. Mas não tenho esse sentimento de que deixei o país; volta e meia eu estou aqui, minha família também", diz Cesar Camargo Mariano. A dupla já tem shows marcados em Nova York em junho e deve passar pela Europa e Japão no segundo semestre deste ano, com o repertório de Duo.
Duo é a concretização, em CD, de uma afinidade musical que já vem desde 1996, quando, convidado a participar do Festival de Jazz de Montreux, Cesar Camargo Mariano convocou Romero Lubambo a integrar sua banda. "Logo depois de me mudar para os EUA (o músico vive lá desde 1994) eu e o Romero ficamos muito amigos e quando me chamaram para tocar em Montreux, na hora eu pensei nele", diz Cesar. Lubambo, radicado em Nova York há 18 anos, já era na época uma referência no cenário do Brazilian Jazz, mesclando a ginga brasileira com o virtuosismo e a tônica improvisativa do jazz. Integrado ao quarteto de Cesar, o violonista se entrosou especialmente com o pianista. "Já no show do festival fizemos dois números em dueto piano e violão. Pintou uma grande identificação musica, uma sintonia muito forte ", lembra Cesar.
Na verdade, a ligação entre a dupla poderia até mesmo datar de antes do encontro físico. "Eu já conhecia todo o trabalho do Cesar e gostava em especial do disco Samambaia, gravado com o Hélio Delmiro - não por acaso, também só de piano e violão", contou Lubambo à epoca do lançamento de Duo. Samambaia, lançado em 1981, é considerado hoje um clássico no entrosamento entre cordas (de nylon) e teclas. E Delmiro foi um dos professores de Lubambo, nos anos 70. "Eu sabia todos os arranjos das músicas de cor", fala Romero, e foram justamente duas faixas de Samambaia - a canção-título e Curumim - as músicas que deram o pontapé inicial do duo Mariano/Lubambo, naquele Montreux-96.
O roteiro dos shows que a dupla está mostrando no Brasil segue basicamente o repertório do disco, que foi gravado em Nova York no ano passado. "Vinhamos fazendo vários shows em duo, apurando a seleção de músicas, mas só quando o João (Marcello Bôscoli, diretor da Trama e considerado por Mariano como um filho) sugeriu que nós gravássemos é que a ficha caiu, relembra Cesar. A complexidade no acerto entre piano e violão evidenciou-se no estúdio. "São instrumentos de condução muito diferente entre si, ainda mais sendo piano acústico e violão de nylon. Tem de haver identificação total entre os músicos", diz Cesar. A prova desta identificação foi a rapidez com que o disco foi gravado: uma tarde. "Gravamos duas vezes cada música, seguindo o mesmo roteiro do show. A dinâmica que acontece no palco, aquela energia, aquela vibração; era o que a gente queria que fosse pro disco", reafirma Cesar.
E o que há, afinal, neste show que virou disco que virou show? Muitos temas alheios, como Samba Dobrado, de Djavan ("Essa versão nasceu de um groove que eu e o Romero costumávamos tocar. Só depois é que encaixamos a música", diz Cesar), duas de Tom Jobim, Fotografia e Wave ("Era o improviso com que fechávamos os shows", fala o pianista) e April Child, de Moacir Santos. Curiosidades como Era Bom, samba de Hianto de Almeida e Macedo Neto que revelou Elza Soares nos anos 60, e O que É, o que É, jingle composto por Cesar para a montadora de carros Chevrolet nos anos 80, também entram na brincadeira.
"A escolha das músicas se deu por causa das levadas, das harmonias e batidas que nos empolgavam. O repertório foi sendo decidido em função do nosso som, da nossa dobradinha, das sugestões que um dava ao outro", diz Cesar. Isso evidencia-se mais ainda nos temas compostos pela dupla para o disco, como Choro#7 (que tem direito a citação de Aquarela do Brasil), Short Cut e na levada funkeada de Mr.Jr.. Enfim, uma mistura única na qual ora sobresssaem-se os solos sutis e melodiosos do piano, ora os ataques mais percussivos e jazzy do violão, mas acima de tudo a bela fusão entre os talentos às vezes contrastantes de Cesar e Lubambo.
Após a curta turnê brasileira, a dupla arruma as malas e volta para Nova York. "Por motivos profissionais, não penso na hipótese de voltar ao Brasil. Mas não tenho esse sentimento de que deixei o país; volta e meia eu estou aqui, minha família também", diz Cesar Camargo Mariano. A dupla já tem shows marcados em Nova York em junho e deve passar pela Europa e Japão no segundo semestre deste ano, com o repertório de Duo.