Um ex-plebeu em estréia solo

Phillipe Seabra, ex-Plebe Rude, mostra no Rio o som de seu projeto Daybreak Gentlemen

Marcus Marçal
13/07/2001
Em vez de esperar a boa vontade de seus antigos companheiros de banda e de promotores de shows para dar continuidade ao trabalho com a Plebe Rude - o seminal grupo brasiliense dos anos 80 que ensaiou um retorno nos últimos dois anos -, Philippe Seabra arregaçou as mangas e tocou em frente seu novo projeto musical: o Daybreak Gentlemen. O ex-plebeu estreou a nova banda aqui no Brasil em apresentação para o projeto A Vez do Brasil, da Rádio Cidade FM, realizado no último dia 11 no Ballroom, casa de espetáculos carioca. Com Phillipe (guitarra e voz) à frente, o DBG fechou a noite, que também contou com o competente Rumbora e o descartável Detonautas.

O ex-plebeu chegou a gravar algum material do novo grupo, inicialmente composto em inglês, e divulgou-o em algumas apresentações nos EUA. Foi a forma que encontrou para continuar trabalhando com música após sua transferência para Nova York, desde o final de sua antiga banda em meados dos anos 90. Com a volta da Plebe, o projeto ficou engavetado temporariamente, até que Seabra se resolveu reativá-lo em versão nacional. A Plebe Rude, até segunda ordem, fechou mesmo para balanço - o último show foi a consagradora participação no Rock In Rio, em janeiro passado, fechando a turnê do disco Enquanto a Trégua Não Vem ouvir 30s

"O DBG não é uma banda, e sim um trabalho solo. Passei muito tempo com banda e agora resolvi fazer a coisa do meu jeito. O Daybreak Gentlemen é como se fosse a Plebe se tivesse continuado naquela linha da música Um Outro Lugar, do terceiro disco", declarou em conversa telefônica antes da estréia. Na nova encarnação do grupo, Philippe Seabra e sua trupe mesclam canções em português e em inglês.

O nome do grupo, Daybreak Gentlemen, foi abreviado para torná-lo mais acessível junto ao público brasileiro. Daí vem a sigla DBG: um power-trio que conta com Alexandre Alja na bateria e o eficiente Fred Casquiros no baixo. Vale lembrar que durante toda a apresentação no Ballroom, rolou também uma participação especial de Fiskal (ex-Squaws, no sampler e percussão), integrante honorário que confere ao som do grupo um recatado acento industrial, misturado a um certo sotaque brazuca em sua batucada.

Seabra começou o show sozinho no palco com a ótima Não Tão Diferente de Você, canção que poderia ser descrita como um "upgrade 2001" de O Traço que Separa (do subestimado terceiro e homônimo disco da Plebe, de 1988), sendo seguido pelos músicos de sua banda. O DBG prosseguiu com Discórdia e a auto-referente Daybreak Gentleman - primeira música composta por Philippe em Nova Iorque após um longo período sem ao menos pegar na guitarra.

"Naquela época tinha largado tudo, não queria mais saber do mundo da música e resolvi fazer outras coisas: viajei pela Europa, estudei outros idiomas... Mas depois de um tempo, me liguei que era só isso o que sabia fazer: música. Fui morar sozinho em Nova Iorque e na minha primeira noite na cidade compus Daybreak Gentleman", comentou sobre suas desmotivações com o showbizz e a retomada do processo criativo.

O show continuou com Couraça, uma paulada à la Killing Joke, seguida de Pronto ou Não, antes do ponto alto da apresentação com a épica That Far, uma longa viagem musical com destaque para a riqueza harmônica da guitarra do plebeu e os samplers de Jaz Coleman e cia. O DBG engrenou um punch básico de punk rock com Água, Querosene e Santarém, com uma balada fora de série chamada Without You - esta última Seabra tocou-a inteiramente no violão, o momento mais pungente do show.

Um petardo com acentuado teor de crítica social, uma das características dos textos da Plebe, intitulado Brasil fechou o set. No bis obrigatório, outra inédita chamada Dançando no Vazio, seguida de uma releitura pessoal de Bravo Mundo Novo, a única concessão ao repertório da Plebe Rude.

Com o DBG, Philippe Seabra atesta sobrevida artística, vislumbrando horizontes sonoros além do que poderia alcançar com a Plebe Rude, sem precisar cortar laços com seu passado. O show do ex-Plebeu foi apenas uma mostra da inventividade de um guitarrista de mão cheia, que maneja o instrumento com uma categoria de dar inveja aos mais jovens.

E em CD, quando o DBG chega? Em Nova York, Phillipe chegou a iniciar o processo de pré-produção do primeiro álbum do grupo, ainda com repertório totalmente em inglês. Mas duas recentes propostas de gravadoras brasileiras interessadas na banda causaram mudanças nos planos do grupo. "Queria só cantar em inglês, mas com essa perspectiva de lançamento aqui no Brasil ficou impossível. Tentei lutar contra, mas tenho de me comunicar com meu público", diz Phillipe.

Se você não pôde conferir este trabalho ao vivo, pode dar uma conferida na homepage do grupo (www.daybreakgentlemen.com), onde pode conhecer um pouco mais do vôo solo de Philippe Seabra, inclusive com acesso a alguns trechos de músicas do grupo. No site também está disponível para download a versão integral em inglês de A Ida, modificada para The Wake.