Um giro europeu com o Skank

Grupo mineiro fala como foi tocar nos festivais de Montreux (Suíça) e Tübingen (Alemanha)

Eliane Fernandes e Lígia Braz
26/07/2001
Tübingen, Alemanha - Sob o sol do verão europeu e temperaturas beirando os trinta graus, o Skank entrou no palco do Festival de Tübingen num domingo - dia 22 de julho - e deixou todo um público multicultural de queixo caído, com seu ritmo e qualidade musical. O grupo se apresentou para um público estimado em seis mil pessoas, na praça principal da cidadezinha de Tübingen (sul da Alemanha), junto a Jorge Ben Jor (com quem também dividiu o palco no Festival de Montreux). Depois de um show baseado no repertório do álbum Maquinarama ouvir 30s, Ben Jor não se fez de rogado e engrossou o caldo sonoro do grupo no palco. O grupo conversou com Cliquemusic sobre seu mais recente giro pela Europa e as novas impressões que colheram do público do Velho Mundo.

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Fotos de Lígia Braz
"Ninguém passa 'isento' por uma situação como essa", disse Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do Skank, logo após o apoteótico show que agitou os alemães. "O fato de uma cidade pequena no interior de um país europeu adotar o Brasil não passa despercebido. E isso nos causou muito espanto. As bandeiras brasileiras tremulando... Há pessoas que você vê que são alemãs, usando a camisa do Brasil. O festival é basicamente de música brasileira. A gente tem que aprender com eles. Isso não existe ainda no Brasil e é uma coisa maravilhosa. Quando é que em Três Corações (MG) vai acontecer um festival de música alemã?", pergunta Samuel, impressionado.

Samuel, Lelo Zaneti (baixo), Haroldo Ferreti (bateria) e Henrique Portugal (teclados) se apresentaram em Tübingen exatos oito dias depois de tocarem em Montreux, tradicional "casa" da música brasileira na Europa - e também considerado o maior festival de jazz do mundo. O vocalista do grupo mineiro comenta sobre a performance no festival suíço: "Foi muito interessante também. Mas lá é um festival mundial. Não é tão específico como este em Tübingen, que se concentra na música brasileira. Em Montreux se apresentam artistas do mundo inteiro. É um festival de música popular do mundo inteiro. Sem fronteiras."

O impacto de tocar em Montreux foi maior para o grupo, já que - como Samuel mesmo reconhece - o festival de Claude Nobs sempre foi uma paixão secreta do Skank. "Eu diria que a gente esperou dez anos para poder pisar no palco de Montreux. Posso confessar que era um sonho nosso desde que temos a banda. A gente falava: 'Já pensou a gente tocar fora do Brasil? Já pensou a gente tocar em Montreux?'", lembra o vocalista. "Para nós, tocar lá sempre foi uma meta. A gente tocou em vários festivais na Europa. Inclusive na Suíça a gente participou do Paléo, que é um festival muito bom, que acontece em Nyon. Já tocamos em Sankt Gallen também. Mas em Montreux foi essa a primeira vez. Foi muito bom."

Samuel tece algumas considerações elogiosas sobre o público europeu: "Eu acho que a Europa e o mundo inteiro têm muito interesse no que os brasileiros fazem em termo de música. Eles nos respeitam. E é bom sentir isso, chegar em um lugar onde seu trabalho vai ser respeitado. As pessoas podem gostar ou não, mas vão respeitar. Acho isso imprescindível. A gente valoriza muito isso. No Brasil, às vezes a gente toca em alguns festivais onde as pessoas não respeitam o grupo que elas não gostam. Elas não tem só indiferença, tem hostilidade. Então, aqui, você toca e quem se interessar vai escutar sua música e quem não se interessar vai tomar uma cerveja. Isso é importante."

O grupo também acredita que as excursões européias podem estar abrindo uma senda para a nova música brasileira se firmar no exterior. "O Skank é uma banda que faz parte da nova geração da música brasileira, que ainda não foi descoberta. Ainda há muitos grupos bons no Brasil que podem vir tocar aqui e tenho certeza de que muita gente vai gostar", fala Samuel. E ele cita nomes promissores: "O Rappa, o Charlie Brown Jr., o Tianastácia. Também tem o Berimbrown, um grupo novo mineiro. Enfim, é interessante que esse outro lado da música brasileira mais nova, com outra cabeça, também seja mostrado, também possa vir tocar aqui. Como Pedro Luís e A Parede (que também tocou com o Skank em Tübingen), que é um ótimo grupo. Mas ainda são poucos da nova geração que têm essa chance."

Viajar para outros países ajudou a modificar um pouco a própria maneira com que o Skank enxerga a si mesmo. "Agora eu acho que o Skank é uma banda latina. Mais do que uma banda brasileira, a gente é uma banda latina de rock", diz Samuel. É fato: o Skank é um dos grupos brasileiros com maior penetração no mercado latino-americano. Isso não quer dizer que o reggae jamaicano, matriz do som do grupo, não tenha mais sua influência. "É um tipo de música que nos fascinou principalmente no início de nossa carreira", afirma o vocalista. " O próprio nome Skank é o nome de uma cadência do reggae. É o easy skank do Bob Marley do LP Exodus."

O próprio Samuel conclui: "Acho que as misturas, as influências de música de fora do Brasil na geração nova de músicos brasileiros são mais explícitas do que eram na época do Jorge Ben, da bossa nova. Música brasileira se mistura hoje com mais facilidade. Misturar coisas do Terceiro Mundo com as referências do pop. Aí o pop pode ser rock, pode ser reggae, pode ser ska, funk, sei lá. E aí você faz a mistura que você achar mais interessante pra música. Nossa maior influência agora é a música do mundo todo."