Um grande palco para o rap nacional
Organizado por Primo Preto e Ice Blue, o festival Millenium Rap reunirá dia 13 de janeiro grandes nomes do gênero
Tom Cardoso
21/12/2000
O rap brasileiro deixou há um bom tempo de ser um fenômeno musical restrito aos bairros periféricos de São Paulo. Mais organizado e menos sectário, o gênero ganhou gravadoras e selos próprios, um público cativo e uma penca de boas bandas. Faltava apenas um grande festival. Faltava. No dia 13 de janeiro, a nata do rap nacional estará no palco do Anhembi, onde será organizado o Millenium Rap, com presenças dos Racionais MC’S, Thaíde e DJ Hum, 509-E, Xis e Marcelo D2 e dos internacionais Bone Thugs and Harmony e Lost Boyz.
"Agora não adianta a mídia fechar o olho. A gente já era a única música com conteúdo feita no Brasil e agora temos estrutura e profissionalismo", disse Ice Blue, integrante do Racionais e que, junto com Primo Preto (produtor e diretor artístico do selo Black Groove, da Sony Music) criou a produtora Groove Brothers, responsável pela idealização do festival. Ambos estiveram concedendo uma entrevista coletiva hoje à tarde em São Paulo, e se mostraram otimistas com o futuro do rap brasileiro. "Estávamos cansados de todo mundo falar do crescimento do rap, das novas bandas e desse papo furado todo. Era a hora de ser realizado um grande festival, de nível internacional, com todas as grandes bandas atuais", afirmou Primo Preto.
O festival será recheado de boas novidades. Os Racionais, por exemplo, prometem tocar duas ou três músicas do novo disco, que deve sair em abril. Os integrantes do 509-E, presos no Casa de Detenção, vão poder tocar pela primeira vez para um grande público. O rapper Xis, revelação deste ano com seu disco Seja Como For, promete também mostrar suas novidades. Enquanto a Thaíde e DJ Hum, segundo Ice Blue, nem precisam apresentar algo novo – os dois têm lugar cativo em qualquer festival de rap feito no Brasil. "Não existe um festival de rap sem Thaíde e DJ Hum. Nós crescemos ouvindo o som dos caras e fomos influenciados por eles", elogia.
Único representante carioca do festival, Marcelo D2 é visto por simpatia pelos organizadores. "É um grande amigo. Um cara que se recusou a tocar no Rock in Rio, tem um conceito musical definido e sabe fazer rap", diz Blue, que não quis polemizar sobre a participação do Pavilhão 9 no Rock in Rio 3, festival que ocorre em janeiro, na mesma data do Millenium Rap. "Não vejo problema. No nosso festival eles não tocariam, pois não aprovo a mistura de rap com rock que eles fazem. Para mim rap tem de ser feito com um DJ, e só. Nada de guitarra e outros instrumentos", radicaliza o rapper, sem saber que D2 também faz as suas misturas.
Primo Preto e Ice Blue esperam um público superior a 40 mil pessoas. Por enquanto, em 10 dias foram vendidos mais de 15 mil ingressos, mesmo com o preço de ingresso considerável caro para o público de rap: R$ 15 (antecipado) e R$ 25 no dia do evento. "Não temos patrocínio nenhum. Fomos obrigados a cobrar esse preço, que eu não acho tão caro assim. É um pouco mais do que um mano gasta para ir a uma boate e ver um show muito menor do que esse", garante o produtor.
Neurose
Sobre o novo disco do Racionais, Ice Blue não quis adiantar muita coisa. Apesar confirmou que as críticas e os protestos ao sistema vão continuar. "A gente é assim mesmo. Não gostamos de nada. Até as nossas músicas a gente critica, achamos algumas uma merda. Somos uns neuróticos", brincou o rapper, que, surpreendentemente, fez vários elogios a personagens importantes da MPB.
"Acho que o rap é atualmente o único gênero que se preocupa com em dar conteúdo à musica brasileira. Antigamente, a gente tinha grandes letristas, mas hoje eles estão todos encostados. Onde estão Chico Buarque e Herbert Vianna? Dois caras que eu admiro muito". Até Caetano Veloso, que ultimamente tem sido alvo de críticas de quase todos os músicos da nova geração, ganhou elogios do rapper. "O Caetano é inquestionável. Caetano é f....", afirmou.
A parceria entre Ice Blue e Primo Preto pretende ir bem mais longe. Em breve, a TV Bandeirantes irá colocar no ar (todos os sábados, às 17 horas) um programa destinado ao rap, com shows e matérias de comportamento. Primo Preto será o apresentador e Ice Blue, o diretor. "Esse é apenas o começo. Nós vamos muito mais longe", garante o produtor.
"Agora não adianta a mídia fechar o olho. A gente já era a única música com conteúdo feita no Brasil e agora temos estrutura e profissionalismo", disse Ice Blue, integrante do Racionais e que, junto com Primo Preto (produtor e diretor artístico do selo Black Groove, da Sony Music) criou a produtora Groove Brothers, responsável pela idealização do festival. Ambos estiveram concedendo uma entrevista coletiva hoje à tarde em São Paulo, e se mostraram otimistas com o futuro do rap brasileiro. "Estávamos cansados de todo mundo falar do crescimento do rap, das novas bandas e desse papo furado todo. Era a hora de ser realizado um grande festival, de nível internacional, com todas as grandes bandas atuais", afirmou Primo Preto.
O festival será recheado de boas novidades. Os Racionais, por exemplo, prometem tocar duas ou três músicas do novo disco, que deve sair em abril. Os integrantes do 509-E, presos no Casa de Detenção, vão poder tocar pela primeira vez para um grande público. O rapper Xis, revelação deste ano com seu disco Seja Como For, promete também mostrar suas novidades. Enquanto a Thaíde e DJ Hum, segundo Ice Blue, nem precisam apresentar algo novo – os dois têm lugar cativo em qualquer festival de rap feito no Brasil. "Não existe um festival de rap sem Thaíde e DJ Hum. Nós crescemos ouvindo o som dos caras e fomos influenciados por eles", elogia.
Único representante carioca do festival, Marcelo D2 é visto por simpatia pelos organizadores. "É um grande amigo. Um cara que se recusou a tocar no Rock in Rio, tem um conceito musical definido e sabe fazer rap", diz Blue, que não quis polemizar sobre a participação do Pavilhão 9 no Rock in Rio 3, festival que ocorre em janeiro, na mesma data do Millenium Rap. "Não vejo problema. No nosso festival eles não tocariam, pois não aprovo a mistura de rap com rock que eles fazem. Para mim rap tem de ser feito com um DJ, e só. Nada de guitarra e outros instrumentos", radicaliza o rapper, sem saber que D2 também faz as suas misturas.
Primo Preto e Ice Blue esperam um público superior a 40 mil pessoas. Por enquanto, em 10 dias foram vendidos mais de 15 mil ingressos, mesmo com o preço de ingresso considerável caro para o público de rap: R$ 15 (antecipado) e R$ 25 no dia do evento. "Não temos patrocínio nenhum. Fomos obrigados a cobrar esse preço, que eu não acho tão caro assim. É um pouco mais do que um mano gasta para ir a uma boate e ver um show muito menor do que esse", garante o produtor.
Neurose
Sobre o novo disco do Racionais, Ice Blue não quis adiantar muita coisa. Apesar confirmou que as críticas e os protestos ao sistema vão continuar. "A gente é assim mesmo. Não gostamos de nada. Até as nossas músicas a gente critica, achamos algumas uma merda. Somos uns neuróticos", brincou o rapper, que, surpreendentemente, fez vários elogios a personagens importantes da MPB.
"Acho que o rap é atualmente o único gênero que se preocupa com em dar conteúdo à musica brasileira. Antigamente, a gente tinha grandes letristas, mas hoje eles estão todos encostados. Onde estão Chico Buarque e Herbert Vianna? Dois caras que eu admiro muito". Até Caetano Veloso, que ultimamente tem sido alvo de críticas de quase todos os músicos da nova geração, ganhou elogios do rapper. "O Caetano é inquestionável. Caetano é f....", afirmou.
A parceria entre Ice Blue e Primo Preto pretende ir bem mais longe. Em breve, a TV Bandeirantes irá colocar no ar (todos os sábados, às 17 horas) um programa destinado ao rap, com shows e matérias de comportamento. Primo Preto será o apresentador e Ice Blue, o diretor. "Esse é apenas o começo. Nós vamos muito mais longe", garante o produtor.
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