Um olhar estrangeiro sobre a música brasileira
O finlandês Mika Kaurismäki e a francesa Dominique Dreyfus preparam documentários sobre MPB para os cinemas e TVs europeus
Tom Cardoso
24/07/2000
Foi-se o tempo que os estrangeiros decidiam morar no Brasil só de olho nas belas praias e no doce balanço de nossas mulheres. Eles continuam se apaixonando pelo país, mas arrumaram um outro motivo para ficar por aqui: a música brasileira. O cineasta finlandês Mika Kaurismäki e a escritora e jornalista francesa Dominique Dreyfus, ambos fissurados por MPB, preparam documentários sobre o gênero, que devem ser exibidos em emissoras de televisão e cinemas europeus no primeiro semestre do ano que vem.
Morando há 10 anos no Rio de Janeiro, onde é dono de uma bar em Ipanema (Mika`s Bar), Mika está terminado de rodar o documentário Moro no Brasil, que deve estrear no Festival de Cinema de Berlim em fevereiro do ano que vem. O diretor conta com um colaborador de peso: a produtora francesa ARTE, a mesma que trabalhou com o cineasta alemão Win Wenders em Buena Vista Social Club, documentário sobre a música cubana que foi sucesso de público e crítica em todo mundo.
"Tenho a consciência de que Moro no Brasil não vai repetir o êxito do filme do Win Wenders. A MPB, apesar de toda a sua riqueza, não possui a mesma força de mercado que a música cubana", afirma Mika, que pode ter seu trabalho apreciado no filme Absolutamente Los Angeles, que entrou semana passada em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro com um relativo atraso – foi dirigido em 1998, numa co-produção entre Finlândia, França e Inglaterra.
Fugindo dos clichês
Mika tem se esforçado para o documentário não virar "produto de exportação". "O filme, apesar da estréia no Festival de Berlim e da produção francesa, também é direcionado para o público brasileiro", avisa o diretor, que fechou um contrato de distribuição com a RioFilme. Ainda sem experiência com documentários do gênero, o diretor acabou gravando em lugares manjadíssimos – foi ao Candeal, em Salvador, ouvir o batuque da Timbalada de Carlinhos Brown; visitou os velhinhos todos da Velha Guarda da Mangueira; foi a Pernambuco acompanhado de Lenine...
Tentando fugir dos clichês, o cineasta pediu ajuda a Gabriel Moura, líder do grupo Farofa Carioca, e viajou com o músico para vários cantos do país, registrando diversas manifestações culturais, do samba de roda ao maracatu, passando por repentistas e emboladores, até chegar no bumba-meu-boi do Maranhão. "Vou ter um trabalhão na hora de editar o filme. É quase impossível registrar a música brasileira em 100 minutos", lamenta o diretor.
Tropicália em lentes francesas
Morando em Paris, mas sempre por aqui tocando projetos envolvendo música brasileira, Dominique Dreyfus já pode ser considerada uma especialista no assunto. Autora de duas biografias – Vida de Viajante: A Saga de Luís Gonzaga e O Violão Vadio de Baden Powell, ambas pela Editora 34, a jornalista foi escolhida pelas emissoras de televisão francesas Mezzo e Historia para dirigir um documentário sobre música brasileira, que deve estrear em julho do ano que vem.
Para não cair no mesmo problema de Mika, que se queixa da dificuldade em editar tamanho material musical, Dominique decidiu-se por um gênero só: a Tropicália. "Eu a escolhi não só por ser um dos mais importantes movimentos musicais, mas também por seu caráter político", diz a escritora, que acertou uma co-produção com a TV Cultura e conta com o patrocínio do Instituto Itaú Cultural.
Além de mostrar imagens importantes (festivais, shows, passeatas e prisões), Dominique vai colher depoimentos com figuras-chave do movimento – Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee etc. Para não ficar apenas no oba-oba, a jornalista teve a boa idéia de chamar alguém para colocar em xeque o tropicalismo, alguém que vivia discordando dos músicos baianos. Carlinhos Lyra aceitou na hora.
"Caetano e Gil fazem muito sucesso na França, mas quase ninguém sabe que eles pertenceram ao Tropicalismo. Não ligam o movimento aos seus líderes", constata Dominique, que pretende nos próximos anos se dedicar a mais um livro sobre música brasileira: vai contar a história do samba paulistano.
Morando há 10 anos no Rio de Janeiro, onde é dono de uma bar em Ipanema (Mika`s Bar), Mika está terminado de rodar o documentário Moro no Brasil, que deve estrear no Festival de Cinema de Berlim em fevereiro do ano que vem. O diretor conta com um colaborador de peso: a produtora francesa ARTE, a mesma que trabalhou com o cineasta alemão Win Wenders em Buena Vista Social Club, documentário sobre a música cubana que foi sucesso de público e crítica em todo mundo.
"Tenho a consciência de que Moro no Brasil não vai repetir o êxito do filme do Win Wenders. A MPB, apesar de toda a sua riqueza, não possui a mesma força de mercado que a música cubana", afirma Mika, que pode ter seu trabalho apreciado no filme Absolutamente Los Angeles, que entrou semana passada em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro com um relativo atraso – foi dirigido em 1998, numa co-produção entre Finlândia, França e Inglaterra.
Fugindo dos clichês
Mika tem se esforçado para o documentário não virar "produto de exportação". "O filme, apesar da estréia no Festival de Berlim e da produção francesa, também é direcionado para o público brasileiro", avisa o diretor, que fechou um contrato de distribuição com a RioFilme. Ainda sem experiência com documentários do gênero, o diretor acabou gravando em lugares manjadíssimos – foi ao Candeal, em Salvador, ouvir o batuque da Timbalada de Carlinhos Brown; visitou os velhinhos todos da Velha Guarda da Mangueira; foi a Pernambuco acompanhado de Lenine...
Tentando fugir dos clichês, o cineasta pediu ajuda a Gabriel Moura, líder do grupo Farofa Carioca, e viajou com o músico para vários cantos do país, registrando diversas manifestações culturais, do samba de roda ao maracatu, passando por repentistas e emboladores, até chegar no bumba-meu-boi do Maranhão. "Vou ter um trabalhão na hora de editar o filme. É quase impossível registrar a música brasileira em 100 minutos", lamenta o diretor.
Tropicália em lentes francesas
Morando em Paris, mas sempre por aqui tocando projetos envolvendo música brasileira, Dominique Dreyfus já pode ser considerada uma especialista no assunto. Autora de duas biografias – Vida de Viajante: A Saga de Luís Gonzaga e O Violão Vadio de Baden Powell, ambas pela Editora 34, a jornalista foi escolhida pelas emissoras de televisão francesas Mezzo e Historia para dirigir um documentário sobre música brasileira, que deve estrear em julho do ano que vem.
Para não cair no mesmo problema de Mika, que se queixa da dificuldade em editar tamanho material musical, Dominique decidiu-se por um gênero só: a Tropicália. "Eu a escolhi não só por ser um dos mais importantes movimentos musicais, mas também por seu caráter político", diz a escritora, que acertou uma co-produção com a TV Cultura e conta com o patrocínio do Instituto Itaú Cultural.
Além de mostrar imagens importantes (festivais, shows, passeatas e prisões), Dominique vai colher depoimentos com figuras-chave do movimento – Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee etc. Para não ficar apenas no oba-oba, a jornalista teve a boa idéia de chamar alguém para colocar em xeque o tropicalismo, alguém que vivia discordando dos músicos baianos. Carlinhos Lyra aceitou na hora.
"Caetano e Gil fazem muito sucesso na França, mas quase ninguém sabe que eles pertenceram ao Tropicalismo. Não ligam o movimento aos seus líderes", constata Dominique, que pretende nos próximos anos se dedicar a mais um livro sobre música brasileira: vai contar a história do samba paulistano.