Um projeto que virou banda por acaso
Em três anos de história, o Bossacucanova teve uma imprevisível trajetória: dos estúdios da Albatroz aos palcos europeus, passando pelas pistas de dança
Silvio Essinger
08/03/2001
"O Bossacucanova é um projeto virou banda", resume Alexandre Moreira, tecladista, produtor, especialista em masterização e exímio manejador de groovebox (espécie de bateria eletrônica com seqüenciador e sintetizador embutidos, com o qual são feitos boa parte dos discos de música eletrônica). Tudo começou nos estúdios da Albatroz, onde Márcio Menescal, Alexandre e Marcelinho Da Lua eram técnicos de estúdio e cuidavam da gravação de discos de nomes célebres da bossa, como o próprio Roberto Menescal, Os Cariocas, Carlos Lyra e Wanda Sá. "A gente adorava aquelas músicas, mas também ouvia funk, hip hop e acid jazz.", conta Márcio.
Um dia, veio a idéia de fazer um remix de uma gravação de Só Danço Samba, dos Cariocas. "O lance era ver se os artistas gostavam. E a receptividade foi maravilhosa", conta. Eles seguiram fazendo o mesmo com gravações de Menescal (Barquinho), Carlos Lyra (Influência do Jazz e Maria Moita - a versão do Bossacucanova para esta última, por sinal, está sonorizando um comercial da Telefonica na Espanha), Wanda Sá (Meditação), Sylvio César (Consolação) e Cláudia Telles (Samba de uma Nota Só). De repente, eles tinham material suficiente para um disco, que foi lançado em 1997, sem grande repercussão, pela Cucamonga. "Ele foi feito sem grandes pretensões", assume Márcio. "Gravamos tudo num antecessor do Pro Tools (programa de edição musical), em apenas quatro canais", completa Alexandre. Essas desanimadoras limitações técnicas, no entanto, forçaram o Bossacucanova a criar um método de trabalho quase artesanal que é usado pelo trio até hoje.
As coisas começaram a acontecer em 1998, quando o rapper Marcelo D2, do Planet Hemp, foi a Nova York mixar seu disco solo (Eu Tiro é Onda ) e mostrou o Bossacucanova Vol.1 para o produtor Béco Dranoff, da Red Hot Organization - ele ficou fascinado e resolveu que aquele seria o primeiro lançamento de seu selo, Ziriguiboom (cujo carro-chefe acabou sendo o disco Tanto Tempo , de Bebel Gilberto). No mesmo ano, Da Lua foi à França, discotecar no festival Transmusicales e levou a tiracolo Alexandre e Márcio - lá, eles deram entrevistas que divulgaram o disco na Europa e distribuíram entre os DJs alguns vinis do BCN (que foram lançados pela belga Crammed, do qual a Ziriguiboom é o selo de música brasileira).
Resultado: em 1999, o Bossacucanova foi convidado pela Six Degrees (subsidiária da Crammed nos Estados Unidos) para uma turnê de discotecagem pelo país e pelo Canadá, ao lado do projeto eletrônico Banco de Gaia e o DJ Cheb I Sabbah. "Foram 25 dias e 10 vôos", conta Da Lua. No meio dessa grande viagem promocional, eles acabaram sendo intimados a fazer um ao vivo numa rádio na Califórnia, a KCRW, no programa Morning Becomes Eclectic. "Disseram para a gente inventar alguma coisa", diverte-se Márcio, que logo pegou um baixo. Com Alexandre nos teclados, Marcelinho nas pick-ups (atacando também como rapper, de improviso) e alguns músicos convidados na percussão e guitarra, o Bossacucanova não só deu conta do recado como ainda deixou os executivos da Six Degrees salivando. Eles perguntavam: se eles sabiam tocar e o Barquinho era um sucesso, por que não faziam um disco com o pai de Márcio? E aí começou a nascer Brasilidade .
No dia-a-dia do trabalho do Bossacucanova, Alexandre Moreira (a consciência harmônica do trio) e Márcio Menescal são os que mais vão para o computador fazer a edição de sons. Marcelinho, responsável pelos milhões de beats sampleados que serão a base da músicas, fica dando os seus palpites, o que não raro termina em confusão. "De uma ou outra idéia absurda dele sai alguma coisa", provoca Márcio. "Mas a coisa só rola quando estão os três juntos".
O Bossacucanova tem hoje em seu currículo a produção de uma versão para Canto de Ossanha feita por Leo Gandelman e remixes para Rita Lee, Paulinho Moska (de Falsa Baiana e Sonho Meu, que entraram na trilha de Sabor da Paixão), para a banda holandesa de trip-bossa Zuco 103 (que tem uma vocalista brasileira) e até para o músico new age Paul Horn. Recentemente, Marcelinho ajudou a organizar compilação de samba soul para a Crammed e vai participar do show do carioca Gabriel Muzak no próximo Abril Pro Rock. A história está só começando para o Bossacucanova.
Um dia, veio a idéia de fazer um remix de uma gravação de Só Danço Samba, dos Cariocas. "O lance era ver se os artistas gostavam. E a receptividade foi maravilhosa", conta. Eles seguiram fazendo o mesmo com gravações de Menescal (Barquinho), Carlos Lyra (Influência do Jazz e Maria Moita - a versão do Bossacucanova para esta última, por sinal, está sonorizando um comercial da Telefonica na Espanha), Wanda Sá (Meditação), Sylvio César (Consolação) e Cláudia Telles (Samba de uma Nota Só). De repente, eles tinham material suficiente para um disco, que foi lançado em 1997, sem grande repercussão, pela Cucamonga. "Ele foi feito sem grandes pretensões", assume Márcio. "Gravamos tudo num antecessor do Pro Tools (programa de edição musical), em apenas quatro canais", completa Alexandre. Essas desanimadoras limitações técnicas, no entanto, forçaram o Bossacucanova a criar um método de trabalho quase artesanal que é usado pelo trio até hoje.
As coisas começaram a acontecer em 1998, quando o rapper Marcelo D2, do Planet Hemp, foi a Nova York mixar seu disco solo (Eu Tiro é Onda ) e mostrou o Bossacucanova Vol.1 para o produtor Béco Dranoff, da Red Hot Organization - ele ficou fascinado e resolveu que aquele seria o primeiro lançamento de seu selo, Ziriguiboom (cujo carro-chefe acabou sendo o disco Tanto Tempo , de Bebel Gilberto). No mesmo ano, Da Lua foi à França, discotecar no festival Transmusicales e levou a tiracolo Alexandre e Márcio - lá, eles deram entrevistas que divulgaram o disco na Europa e distribuíram entre os DJs alguns vinis do BCN (que foram lançados pela belga Crammed, do qual a Ziriguiboom é o selo de música brasileira).
Resultado: em 1999, o Bossacucanova foi convidado pela Six Degrees (subsidiária da Crammed nos Estados Unidos) para uma turnê de discotecagem pelo país e pelo Canadá, ao lado do projeto eletrônico Banco de Gaia e o DJ Cheb I Sabbah. "Foram 25 dias e 10 vôos", conta Da Lua. No meio dessa grande viagem promocional, eles acabaram sendo intimados a fazer um ao vivo numa rádio na Califórnia, a KCRW, no programa Morning Becomes Eclectic. "Disseram para a gente inventar alguma coisa", diverte-se Márcio, que logo pegou um baixo. Com Alexandre nos teclados, Marcelinho nas pick-ups (atacando também como rapper, de improviso) e alguns músicos convidados na percussão e guitarra, o Bossacucanova não só deu conta do recado como ainda deixou os executivos da Six Degrees salivando. Eles perguntavam: se eles sabiam tocar e o Barquinho era um sucesso, por que não faziam um disco com o pai de Márcio? E aí começou a nascer Brasilidade .
No dia-a-dia do trabalho do Bossacucanova, Alexandre Moreira (a consciência harmônica do trio) e Márcio Menescal são os que mais vão para o computador fazer a edição de sons. Marcelinho, responsável pelos milhões de beats sampleados que serão a base da músicas, fica dando os seus palpites, o que não raro termina em confusão. "De uma ou outra idéia absurda dele sai alguma coisa", provoca Márcio. "Mas a coisa só rola quando estão os três juntos".
O Bossacucanova tem hoje em seu currículo a produção de uma versão para Canto de Ossanha feita por Leo Gandelman e remixes para Rita Lee, Paulinho Moska (de Falsa Baiana e Sonho Meu, que entraram na trilha de Sabor da Paixão), para a banda holandesa de trip-bossa Zuco 103 (que tem uma vocalista brasileira) e até para o músico new age Paul Horn. Recentemente, Marcelinho ajudou a organizar compilação de samba soul para a Crammed e vai participar do show do carioca Gabriel Muzak no próximo Abril Pro Rock. A história está só começando para o Bossacucanova.
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