Um Roberto Carlos diferente para 2003

Cantor lança álbum com canções inéditas, o primeiro em cinco anos, e grava um rock e até faz rap

Marco Antonio Barbosa
04/12/2003
Roberto Carlos está de volta. Mas isso não é novidade: há pelo menos duas décadas e meia, dezembro é tradicionalmente o mês em que o Rei sai da toca e solta seu LP anual. A novidade é que este ano o disco de RC não vai ser tão igual aos últimos. Pra Sempre (Sony Music), novo trabalho do ídolo, é o primeiro em cinco anos a trazer apenas canções novas; o disco também traz nada menos que cinco músicas escritas por Roberto apenas, quebrando a parceria com Erasmo Carlos; não há músicas com mensagens religiosas; e há até mesmo um rock'n'roll no repertório, coisa que o Brasa não arriscava há muito tempo. Sem falar em Seres Humanos, um rap - ou pelo menos, o mais perto que Roberto poderia chegar de um rap - com letra altamente conscientizada.

Entretanto, há coisas nos domínios do Rei que continuam as mesmas. A nova safra de canções é, claro, muito romântica, celebrando mais uma vez o amor do cantor por Maria Rita (sua falecida esposa, morta em 1999). Os arranjos do maestro Eduardo Lages continuam lá, assim como a tradicional foto de capa em tons azulados, cor favorita do cantor. Roberto recebeu um grande contingente de jornalistas de todo o Brasil no Hotel Caesar Park (RJ) na quarta-feira, para falar sobre Pra Sempre, que chega às lojas na próxima sexta (dia 5). O álbum foi cercado de toda uma prevenção anti-pirataria; em julho, a fita-master com oito das dez músicas do disco foi trancafiada em um cofre bancário, de onde só saiu para a prensa de CDs na semana passada. Nem mesmo Roberto tinha visto o CD pronto até a coletiva - o vice-presidente de marketing da Sony, Alexandre Schiavo, entregou ao Rei a cópia nº1 de Pra Sempre diante dos jornalistas.

O título: "Vem do nome da música de trabalho, que é também a canção que abre o disco. Há muitos anos eu venho fazendo discos apenas com meu nome no título, mas quebrei essa tradição com o Amor Sem Limite (2001) e este álbum agora. O título diz bem o que se passa no meu coração em relação ao amor que sinto por Maria Rita - vai durar para sempre. O amor é pra sempre, claro, mas as pessoas mudam. Aprendemos com o tempo, com a vida. "

As novas canções: "Quis falar agora de amores bem-sucedidos, fazer com que o disco tivesse uma carga de amor. Mas só das coisas bonitas do amor, não da tristeza. Todas as músicas são dedicadas à Maria Rita, falam de coisas ligadas ao meu coração. Músicas como Pra Sempre e Com Você falam disso. Ao escrevê-las, tive momentos de muita saudade, muitas lágrimas... (o cantor pausa, com voz embargada) Cada vez que completava um verso, chorava de emoção. As músicas de outros compositores (são três: Eu Vou Sempre Amar Você, de Eduardo Lages, Como Eu Te Amo, de Mauro Motta & Carlos Colla, e História de Amor, de Lula Barbosa & Pedro Bares) também se encaixam nesse critério, são declarações de amor. Coisas leves, bonitas. Entreguei a parte principal do disco, oito músicas, com bastante antecedência este ano - em meados do ano, quando o normal para mim é deixar para a última hora, para os últimos meses. O contrato diz que tenho de fazer oito músicas por CD, mas eu pessoalmente acho pouco; quis fazer mais duas e pedi mais tempo à gravadora. Eles tiveram paciência e acabei incluindo Acróstico e Todo Mundo Me Pergunta."

Mensagens: "Neste disco eu não coloquei nenhuma mensagem, que é como eu chamo minhas músicas religiosas, porque a mensagem que eu queria passar é a da letra de Seres Humanos. A letra contesta essa idéia de que o ser humano é o culpado por toda a destruição da natureza. Acho que o homem faz muita coisa errada sim, mas por necessidade; por exemplo, antigamente queimavamos árvores para ter lenha, depois evoluímos, descobrimos outros combustíveis. Destruímos muito mas sempre tentamos consertar nossos erros. Uma minoria depreda e toda a raça humana leva a culpa, mas a maioria das pessoas é do bem."

O rock Cadillac, única parceria com Erasmo: "Comecei a fazer esta música em 1998. Eu ia escrevendo e mostrando para Maria Rita, daí ela ficou doente, aconteceu aquilo tudo e a música ficou inacabada. Cheguei a gravá-la ainda em 1998, mas a versão ficou engavetada. Terminamos, eu e Erasmo, no ano passado. É uma viagem de volta no tempo, que remete a Calhambeque, um dos maiores sucessos, uma das músicas mais importantes da minha vida. Tem uma história engraçada sobre a letra, eu tinha imaginado um 'Cadillac vermelho-cintilante, de quase seis metros'. E ainda em 1998 eu tinha proposto ao (piloto) Emerson Fittipaldi comprar um dos Cadillacs dele, ele tinha três em sua casa nos EUA. Acabei só comprando o carro muito tempo depois, mas era igual ao que eu tinha descrito na letra! Dizem que quem coleciona carros antigos quer resgatar um pouco de sua juventude. Nessa música eu também resgatei um pouco do passado, relembrei a Jovem Guarda, uma época da qual tenho muita saudade."

A parceria: "Não tenho assinado músicas com Erasmo porque essas novas canções falam de coisas muito pessoais, muito exclusivas minhas. É impossivel dividir sentimentos como esses e Erasmo entende isso, sabe que eu tenho de fazer isso sozinho. Com ele tenho uma parceria maravilhosa, há uma compatibilidade de idéias, uma evolução harmônica que é perfeita. Não sei como seria com outra pessoa; já compus com Ronaldo Bôscoli, foi ótimo, mas diferente."

O novo show e o especial da TV Globo: "A excursão já tem um título, mas não vou contar... Vou cantar quatro ou cinco músicas do disco novo, certamente Acróstico, Pra Sempre e Cadillac estarão no show. Não gosto muito de cantar várias músicas que o público ainda não conhece direito. Vai ter um Cadillac inflável no cenário, uma coisa bacana. Do especial não posso falar muito ainda, só que vai ter cenas do show que farei no Marancanazinho (RJ) este fim de semana (dias 6 e 7). Zeca Pagodinho vai cantar comigo no especial; eu o convidei pessoalmente, sou muito fã dele. Será uma alegria, um prazer."

Pirataria: "É lamentável, uma coisa que já poderia e deveria ter sido resolvida há muito mais tempo. Trabalha-se meses, às vezes anos em um CD e de repente invadem o seu trabalho, e as autoridades não fazem nada. Os piratas colocam verdadeiras lojas de CDs nas calçadas e ninguém proibe; no exterior, a pirataria é algo escondido, os caras se encolhem, fazem na moita. Aqui é o contrário. É uma situação absurdamente particular do Brasil."

Sucesso e longevidade: "Quarenta anos aí... não sei como explicar isso. Eu apenas me esforço, tento compor e cantar direitinho. Mas isso muita gente por aí, muitos outros artistas, também fazem. Então... não tem explicação."

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