Uma cantora virada para a Lua
Simone Guimarães conta tudo sobre seu quarto álbum, que tem participações de Milton Nascimento e Guinga
Marco Antonio Barbosa
18/07/2001
Virada Pra Lua: literalmente, é assim que a cantora e compositora Simone Guimarães se sente em relação aos novos rumos de sua carreira. Mais do que apenas ser o título de seu novo trabalho - prestes a ser lançado pela gravadora Lua Discos, e que vai marcar a estréia da cantora no selo - Virada Pra Lua resume bem a fase em que Simone se encontra. "Estou em um momento superlegal da minha carreira. O pessoal da Lua Discos me deu a mão na hora certa, quando eu estava procurando uma gravadora que atendesse às minhas expectativas. Tudo correu tudo às mil maravilhas: eles são finíssimos e me deram a liberdade necessária para construir um trabalho de essência, existencialmente coerente com tudo aquilo que eu esperava para este ano de 2001", afirma Simone ao Cliquemusic.
E Simone tinha realmente direito a esperar muito de 2001. Tendo lançado seu primeiro CD em 1996 (Piracema
), a cantora veio construindo de forma gradual seu prestígio junto à elite da MPB, mesmo ficando à margem da grande mídia. Isso começou a mudar graças a Milton Nascimento, que expôs a cantora ao grande público pela primeira vez (ao dividir o palco com ela em sua turnê Crooner, em 1999). Mas já naquela época Simone era darling de graúdos como Ivan Lins, Elba Ramalho e Danilo Caymmi, que sempre deram apoio à sua carreira. Virada Pra Lua, seu quarto CD, pode dar a Simone a chance de, afinal, se estabelecer no primeiro time da MPB. O álbum também mostra pela primeira vez uma Simone mais explicitamente "urbana", deixando para trás suas raízes na música regional.
"Acho que já estou muito bem posicionada no mercado. Não pretendo me firmar como cantora 'urbana', ou dentro de qualquer outro rótulo; sou apenas uma compositora que traduz o que sente, sem modismos ou 'geografismos'. Mas os meus outros trabalhos são mais bucólicos que este disco novo, que é realmente mais urbano. Isso é explícito nos próprios arranjos. Sei que é difícil conseguir firmar um trabalho como o meu; afinal, quase não se percebe mais poesia neste país de bundas e de miséria!", afirma Simone.
A pedido de Cliquemusic, Simone revelou alguns dos segredos de Virada Pra Lua, que terá seu lançamento oficial em São Paulo, com dois shows no Sesc Pompéia (nos dias 1º e 2 de agosto).
"Tem muita coisa legal no CD. Há parcerias minhas com o Yuri Popoff, um gênio brasileiro com "G" maiúsculo, e também com o Kiko Continentino, pra mim uma das maiores revelações que Minas nos deu, depois do Clube da Esquina. Milton Nascimento também participa, cantando em Imagem e Semelhança: o danado colocou uma voz super vibrante na faixa, com aqueles vocais que só ele sabe fazer. Faço uma homenagem a Ivan Lins, com a música Trinta Anos. Os arranjos são quase todos do Leandro Braga, um grande craque que me acompanha desde o começo da minha carreira.
"Além disso, tem também o Guinga, que cedeu uma música para o repertório do disco e toca violão. Tenho o Guinga como meu irmão. Gênio indiscutível, da maior simplicidade que eu já pude ver e também o cara mais engraçado que eu já conheci... Foi num clima de total brincadeira que nós gravamos, na véspera da virada de 2000 para 2001, uma obra seríssima dele em parceria com Paulo César Pinheiro, Porto de Araújo."
Virada Pra Lua: "Foi um sonho da Ana Gurgel, a minha empresária, que apontou o caminho. Ela teve um sonho e pediu que eu fizesse uma música com este título. Eu incumbi o poeta Sérgio Natureza de fazer a letra. Ele me veio com uma letra espetacular, que me sensibilizou na hora e não deu outra - fiz uma música emocionadíssima! É um samba super brasileiro, que me dá o maior prazer de cantar. Essa música é mais do que um olhar pro sonho, é viver dele e nele crescer. O fato é que muito me orgulha ser parceira do Sérgio, um dos maiores poetas da música brasileira, quiçá mundial."
Imagem e Semelhança: "Uma faixa muito gostosa, do Bituca (Milton Nascimento) em parceria com os novos Kiko Continentino e Bena Lobo. A letra do Bituca é genial; questiona a Bíblia quando ela diz que somos feitos à imagem e semelhança de Deus, pois para ele (Milton) estamos muito distantes disso. O Kiko é um compositor de sensibilidade rara e toca piano demais; tanto é que ele faz parte da banda do Bituca, que não é nada bobo."
Trinta Anos: "Essa é do Ivan Lins, um dos homenageados do CD, pelos seus 30 anos de carreira - aliás, é uma homenagem também ao parceiro dele, o Victor Martins, que também está fazendo 30 anos junto ao Ivan. A música tem uma letra questionadora do Victor: 'Eu já tenho trinta anos de cinema, de teatro, de platéia, dando o sangue, dando força, dando a alma pro país...'."
Imensidade: "É um samba de minha autoria, que eu ofereço aos negros. Fala da beleza negra e de seu magnetismo. Este samba eu fiz, refletindo sobre a obra do compositor Nelson Ângelo, a quem eu presto mais uma homenagem, por se tratar de um dos compositores brasileiros que mais admiro. A música é dedicada a ele."
Night Club: "É um bolerão que eu fiz junto com o Kiko Continentino. Nós a escrevemos pensando nos night-clubs franceses dos anos 40. Fiz a letra em cima da música do Kiko, pensando num livro de cartas escritas pela (intelectual francesa) Simone de Beauvoir para um amante que morava em Chicago."
Cenários: "Uma composição simples e bela de Misael da Hora e Julio Moura. O Julio é um carioca que sem dúvida está entre os bons talentos da nova músicam brasileira."
Porto de Araújo: "Do Guinga e do Paulo César Pinheiro. É o único arranjo que não foi feito pelo Leandro Braga, e sim pelo próprio Guinga - com o violão de sete cordas do Marcelo Gonçalves (do Trio Madeira Brasil) e ele mesmo tocando o seu peculiar Violão. É uma belíssima canção desses dois gênios. Resolvi interpretá-la cançaõ por falar muito com a minha alma interiorana: a letra conta a história de alguém que deixa sua casa, sua família e sai em busca do sonho."
Além dessas canções, Virada Pra Lua ainda tem um breve aceno às origens interioranas de Simone, com Fábula do Riacho (de Cristina Saraiva); Meu Coração, música inédita de Thomas Roth (o dono da Lua Discos); e outras duas canções de Simone, Convulsionada e Sertão das Águas (esta em parceria com Yuri Poppof). Mas ela não pára. "Já tenho meu próximo projeto todo concebido: será um disco só com poemas musicados", conta a cantora. É, talvez até a Lua - o satélite - seja pequena para ela.
E Simone tinha realmente direito a esperar muito de 2001. Tendo lançado seu primeiro CD em 1996 (Piracema

"Acho que já estou muito bem posicionada no mercado. Não pretendo me firmar como cantora 'urbana', ou dentro de qualquer outro rótulo; sou apenas uma compositora que traduz o que sente, sem modismos ou 'geografismos'. Mas os meus outros trabalhos são mais bucólicos que este disco novo, que é realmente mais urbano. Isso é explícito nos próprios arranjos. Sei que é difícil conseguir firmar um trabalho como o meu; afinal, quase não se percebe mais poesia neste país de bundas e de miséria!", afirma Simone.
A pedido de Cliquemusic, Simone revelou alguns dos segredos de Virada Pra Lua, que terá seu lançamento oficial em São Paulo, com dois shows no Sesc Pompéia (nos dias 1º e 2 de agosto).
"Tem muita coisa legal no CD. Há parcerias minhas com o Yuri Popoff, um gênio brasileiro com "G" maiúsculo, e também com o Kiko Continentino, pra mim uma das maiores revelações que Minas nos deu, depois do Clube da Esquina. Milton Nascimento também participa, cantando em Imagem e Semelhança: o danado colocou uma voz super vibrante na faixa, com aqueles vocais que só ele sabe fazer. Faço uma homenagem a Ivan Lins, com a música Trinta Anos. Os arranjos são quase todos do Leandro Braga, um grande craque que me acompanha desde o começo da minha carreira.
"Além disso, tem também o Guinga, que cedeu uma música para o repertório do disco e toca violão. Tenho o Guinga como meu irmão. Gênio indiscutível, da maior simplicidade que eu já pude ver e também o cara mais engraçado que eu já conheci... Foi num clima de total brincadeira que nós gravamos, na véspera da virada de 2000 para 2001, uma obra seríssima dele em parceria com Paulo César Pinheiro, Porto de Araújo."
Virada Pra Lua: "Foi um sonho da Ana Gurgel, a minha empresária, que apontou o caminho. Ela teve um sonho e pediu que eu fizesse uma música com este título. Eu incumbi o poeta Sérgio Natureza de fazer a letra. Ele me veio com uma letra espetacular, que me sensibilizou na hora e não deu outra - fiz uma música emocionadíssima! É um samba super brasileiro, que me dá o maior prazer de cantar. Essa música é mais do que um olhar pro sonho, é viver dele e nele crescer. O fato é que muito me orgulha ser parceira do Sérgio, um dos maiores poetas da música brasileira, quiçá mundial."
Imagem e Semelhança: "Uma faixa muito gostosa, do Bituca (Milton Nascimento) em parceria com os novos Kiko Continentino e Bena Lobo. A letra do Bituca é genial; questiona a Bíblia quando ela diz que somos feitos à imagem e semelhança de Deus, pois para ele (Milton) estamos muito distantes disso. O Kiko é um compositor de sensibilidade rara e toca piano demais; tanto é que ele faz parte da banda do Bituca, que não é nada bobo."
Trinta Anos: "Essa é do Ivan Lins, um dos homenageados do CD, pelos seus 30 anos de carreira - aliás, é uma homenagem também ao parceiro dele, o Victor Martins, que também está fazendo 30 anos junto ao Ivan. A música tem uma letra questionadora do Victor: 'Eu já tenho trinta anos de cinema, de teatro, de platéia, dando o sangue, dando força, dando a alma pro país...'."
Imensidade: "É um samba de minha autoria, que eu ofereço aos negros. Fala da beleza negra e de seu magnetismo. Este samba eu fiz, refletindo sobre a obra do compositor Nelson Ângelo, a quem eu presto mais uma homenagem, por se tratar de um dos compositores brasileiros que mais admiro. A música é dedicada a ele."
Night Club: "É um bolerão que eu fiz junto com o Kiko Continentino. Nós a escrevemos pensando nos night-clubs franceses dos anos 40. Fiz a letra em cima da música do Kiko, pensando num livro de cartas escritas pela (intelectual francesa) Simone de Beauvoir para um amante que morava em Chicago."
Cenários: "Uma composição simples e bela de Misael da Hora e Julio Moura. O Julio é um carioca que sem dúvida está entre os bons talentos da nova músicam brasileira."
Porto de Araújo: "Do Guinga e do Paulo César Pinheiro. É o único arranjo que não foi feito pelo Leandro Braga, e sim pelo próprio Guinga - com o violão de sete cordas do Marcelo Gonçalves (do Trio Madeira Brasil) e ele mesmo tocando o seu peculiar Violão. É uma belíssima canção desses dois gênios. Resolvi interpretá-la cançaõ por falar muito com a minha alma interiorana: a letra conta a história de alguém que deixa sua casa, sua família e sai em busca do sonho."
Além dessas canções, Virada Pra Lua ainda tem um breve aceno às origens interioranas de Simone, com Fábula do Riacho (de Cristina Saraiva); Meu Coração, música inédita de Thomas Roth (o dono da Lua Discos); e outras duas canções de Simone, Convulsionada e Sertão das Águas (esta em parceria com Yuri Poppof). Mas ela não pára. "Já tenho meu próximo projeto todo concebido: será um disco só com poemas musicados", conta a cantora. É, talvez até a Lua - o satélite - seja pequena para ela.