Uma noitada suburbana com Bebeto

O rei do samba-rock reencontra os fãs cariocas

Marco Antonio Barbosa
04/06/2001
Ele nasceu em São Paulo, ganhou fama cantando a beleza da Cidade Maravilhosa e depois voltou para a terra da garoa. E de lá, de mansinho, depois de amargar um ostracismo de 15 anos longe dos palcos e outros cinco sem gravadora, ressurge no trono que é seu de direito: o de rei do samba-rock. Ele é Bebeto, que vem fazendo o maior sucesso na noite paulistana - pilotando o ressurgimento do ritmo que criou nos anos 70 - e que esteve no Rio nos últimos dias 2 e3, cantando para o público que o consagrou no auge de sua carreira: o subúrbio carioca.

"Vim do Brás para o Rio em 1978 e me fiz cantando aqui", conta Bebeto, antes do show que realizou na Lona Cultural de Bangu, no dia 2. Para assisti-lo cantar os sucessos de sua fase dourada - Praia e Sol, Salve Ela, Minha Preta ou A Beleza é Você, Menina, todos incluídos em seu recente lançamento Bebeto Ao Vivo -, cerca de duas mil pessoas aguardavam pacientemente. O clima não poderia ser mais bailão de subúrbio - mas afinal, era aquilo mesmo...

Em meio à platéia, muita gente jovem, que não era nem nascida quando Bebeto arrebentava nas rádios e desagradava aos "inteligentes", que o taxavam de imitador de Jorge Ben. "É esse o meu público atualmente, nos shows que faço em São Paulo. Tem bastante gente que me conhece há tempos, mas a maioria mesmo é de jovens. É que para eles o samba-rock é novidade. A juventude anda valorizando muito a música brasileira agora", fala Bebeto.

Essa mesma juventude lota as noitadas samba-rock promovidas por Bebeto e seus "afilhados", o grupo Clube do Balanço (comandado por Marco Mattoli, ex-Mattoli & Os Guanabaras). Clubes noturnos paulistanos de classe média ficam entupidos para assistir aos shows ou ouvir DJs botando nas vitrolas clássicos e novidades do estilo. "A garotada está curtindo, então o nosso momento é esse mesmo. É bom ver que gente como o Trio Mocotó, por exemplo, também está de volta por causa da nova onda. Eu mesmo já não gravava há um tempão, fiquei anos sem fazer show", relembra Bebeto. É sério: de 1985 a 2000, o cantor praticamente sumiu dos palcos. Antes de Bebeto Ao Vivo, do ano passado, seu último lançamento tinha sido Garra, Samba e Raça, de 1995, pá de cal em uma longa seqüência de álbuns que cairam no vazio.

"Sofri muito, agüentei vários preconceitos - porque minha música era direcionada para o público negro. Isso, e a história de que eu imitava o Jorge Ben, fechou muitas portas para mim. Mas me considero original. O suíngue, o samba-rock, nasceu comigo e com mais alguns outros artistas, já nos anos 70. Quando Ben surgiu, nem havia o termo samba-rock ainda!", fala Bebeto. E acrescenta: "Resisti firme, nunca embarquei em movimento ou moda nenhuma. É por isso que estou aqui até hoje".

De 1975 a 1981, não houve erro na carreira de Bebeto: apesar do estigma de imitador, ele enfileirou vários hits, culminando em Praia e Sol("Praia e sol/Maracanã, futebol"), seu último grande sucesso. Ironia: um hino ao Rio de Janeiro, composto e cantado por um paulista. "Vim me radicar no Rio em 1978 porque a gravadora mandou. Diziam que eu tinha cara de carioca. Deu certo", conta Bebeto. Os sucessos em rádio e as boas vendagens dos álbuns que ele lançou até o começo dos anos 80 eram o complemento de uma agitada agenda de bailes na periferia carioca. "Tocávamos suíngue a noite inteira, para quadras lotadas de gente dançando. Ali não havia nem preconceito nem gente me chamando de imitador", relembra o cantor.

E, por mais uma reviravolta do destino, eis que é a juventude paulista quem abraça o cantor em seu comeback. "São Paulo sempre foi a terra do samba-rock, foi lá que o estilo ganhou este nome", fala Bebeto. "Existia no Rio quando eu vim para cá, e existe até hoje, mas era diferente". A julgar pela animação do público de Bangu, não era lá tão diferente. O rei do samba-rock está em casa, novamente.