Uma rica viagem à pré-história da MPB
Centro Petrobras de Referência da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, documenta com detalhes os primórdios de nossa música
Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
04/07/2002
O padrão de qualidade de nossa música ganhou mais um reforço com a criação do
Centro Petrobras de Referência da Música Brasileira, inaugurado no final de maio. Com sede no Instituto
Moreira Salles, na Gávea (RJ), a instituição apresenta o maior acervo já reunido
no Brasil de fonogramas raros - incluindo as primeiras gravações elétricas feitas no
País, além do resgate de choros em grande parte desconhecidos até hoje. "É o
maior projeto dessa espécie no mundo, é como se fosse uma biblioteca nacional
da música", destaca o escritor Jorge Caldeira, idealizador do projeto.
Caldeira conta que o projeto surgiu através de conversas com o pesquisador Humberto Franceschi. "Ele é uma daquelas quatro ou cinco pessoas donas da memória brasileira. Há 50 anos, ele juntava coisas já consideradas velhas e queria que esse material se tornasse público", revela. Alguns anos se passaram entre a idéia e a concretização do Centro: "Tínhamos que fazer uma coisa 'à prova de bala'. O (Instituto) Moreira Salles se interessou, mas não tinha estrutura para digitalizar o material. A Sarapuí Produções Artísticas (leia-se selo Biscoito Fino) entrou para tornar essa parte viável e depois apresentamos o projeto à Petrobras, que liberou o patrocínio no final de 2000".
Os números impressionantes do acervo vão facilitar como nunca a vida de pesquisadores e de todos os interessados pela música nacional. "Imaginem só: são 12 mil músicas, e cada uma foi restaurada separadamente. Foram gastas 1700 horas em 11 estúdios, parados por um ano, que resultaram em 900 CDs. E isso é só 30% de tudo que foi gravado na primeira metade do século XX", detalha Caldeira.
Ao lado dos 12 mil fonogramas, o Centro de Referência oferece também uma reserva técnica que abriga 6 mil discos originais do acervo de Humberto Franceschi. A este acervo, somam-se 8 mil discos mecânicos e 40 mil LPs da coleção do crítico e pesquisador José Ramos Tinhorão, além de 20 mil recortes de jornal. À disposição do público, no Instituto Moreira Salles, ficarão cinco terminais com um banco de dados multimídia conectado à Internet, incluindo todos os fonogramas, documentos e informações.
O Centro disponibiliza também a caixa Memórias Musicais, com 15 CDs, com as primeiras gravações realizadas no Brasil (Pixinguinha, Patápio Silva, Pedro Galdino & Pessoal do Bloco, Grupo Terror dos Facões entre outros); a série Princípios do Choro, com cinco CDs duplos (215 choros inéditos ou pouco conhecidos compostos na passagem do século XIX para o XX); e o livro A Casa Edison e Seu Tempo, de Franceschi, sobre a primeira companhia de discos do País, ativa de 1902 a 1932. "O livro inclui nove CDs: um de documentos, um de fotos raríssimas, dois com 2 mil arranjos escritos, um de partituras e melodias e quatro de música", informa o organizador do Centro. O pacotaço de livros e discos leva o selo da gravadora Biscoito Fino.
O livro de Franceschi é uma mina de ouro para os interessados nos primeiríssimos passos da nossa indústria fonográfica. Fundada em 1902 por Frederico Figner (imigrante da Tchecoslováquia), a Casa Edison foi responsável pelo marco zero de nossa história discográfica: segundo o livro, foi o lundu Isto É Bom, de Xisto Bahia, cantada por Baiano, o primeiro fonograma made in Brazil. Maxixes, tangos, polcas e valsas - além de discursos - constituiam o catálogo de lançamentos da Edison, que perdeu mercado depois da popularização do gramofone.
Na luxuosa caixa Memórias Musicais pode-se ouvir também um panorama praticamente completo dos inventores da música brasileira moderna. Pode-se ouvir a evolução dos grupos de choro (que primeiro tocavam de tudo, depois vieram construindo o gênero como se conhece hoje), as primeiras e raríssimas gravações de gigantes como Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Irineu de Almeida e Patápio Silva. Já Princípios do Choro concentra-se na produção que nem chegou a ser gravada, feita ainda nos tempos do império. Mauricio Carrilho e Luciana Rabello coordenaram as gravações das 215 músicas, um trabalho que exigiu minuciosa pesquisa de partituras e arranjos.
Caldeira conta que o projeto surgiu através de conversas com o pesquisador Humberto Franceschi. "Ele é uma daquelas quatro ou cinco pessoas donas da memória brasileira. Há 50 anos, ele juntava coisas já consideradas velhas e queria que esse material se tornasse público", revela. Alguns anos se passaram entre a idéia e a concretização do Centro: "Tínhamos que fazer uma coisa 'à prova de bala'. O (Instituto) Moreira Salles se interessou, mas não tinha estrutura para digitalizar o material. A Sarapuí Produções Artísticas (leia-se selo Biscoito Fino) entrou para tornar essa parte viável e depois apresentamos o projeto à Petrobras, que liberou o patrocínio no final de 2000".
Os números impressionantes do acervo vão facilitar como nunca a vida de pesquisadores e de todos os interessados pela música nacional. "Imaginem só: são 12 mil músicas, e cada uma foi restaurada separadamente. Foram gastas 1700 horas em 11 estúdios, parados por um ano, que resultaram em 900 CDs. E isso é só 30% de tudo que foi gravado na primeira metade do século XX", detalha Caldeira.
Ao lado dos 12 mil fonogramas, o Centro de Referência oferece também uma reserva técnica que abriga 6 mil discos originais do acervo de Humberto Franceschi. A este acervo, somam-se 8 mil discos mecânicos e 40 mil LPs da coleção do crítico e pesquisador José Ramos Tinhorão, além de 20 mil recortes de jornal. À disposição do público, no Instituto Moreira Salles, ficarão cinco terminais com um banco de dados multimídia conectado à Internet, incluindo todos os fonogramas, documentos e informações.
O Centro disponibiliza também a caixa Memórias Musicais, com 15 CDs, com as primeiras gravações realizadas no Brasil (Pixinguinha, Patápio Silva, Pedro Galdino & Pessoal do Bloco, Grupo Terror dos Facões entre outros); a série Princípios do Choro, com cinco CDs duplos (215 choros inéditos ou pouco conhecidos compostos na passagem do século XIX para o XX); e o livro A Casa Edison e Seu Tempo, de Franceschi, sobre a primeira companhia de discos do País, ativa de 1902 a 1932. "O livro inclui nove CDs: um de documentos, um de fotos raríssimas, dois com 2 mil arranjos escritos, um de partituras e melodias e quatro de música", informa o organizador do Centro. O pacotaço de livros e discos leva o selo da gravadora Biscoito Fino.
O livro de Franceschi é uma mina de ouro para os interessados nos primeiríssimos passos da nossa indústria fonográfica. Fundada em 1902 por Frederico Figner (imigrante da Tchecoslováquia), a Casa Edison foi responsável pelo marco zero de nossa história discográfica: segundo o livro, foi o lundu Isto É Bom, de Xisto Bahia, cantada por Baiano, o primeiro fonograma made in Brazil. Maxixes, tangos, polcas e valsas - além de discursos - constituiam o catálogo de lançamentos da Edison, que perdeu mercado depois da popularização do gramofone.
Na luxuosa caixa Memórias Musicais pode-se ouvir também um panorama praticamente completo dos inventores da música brasileira moderna. Pode-se ouvir a evolução dos grupos de choro (que primeiro tocavam de tudo, depois vieram construindo o gênero como se conhece hoje), as primeiras e raríssimas gravações de gigantes como Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Irineu de Almeida e Patápio Silva. Já Princípios do Choro concentra-se na produção que nem chegou a ser gravada, feita ainda nos tempos do império. Mauricio Carrilho e Luciana Rabello coordenaram as gravações das 215 músicas, um trabalho que exigiu minuciosa pesquisa de partituras e arranjos.