Uma vida dedicada a fazer o público dançar

Músico que participou do parto da bossa nova, Ed Lincoln passou pelo piano e pelo baixo até ir parar no órgão

Silvio Essinger
21/07/2000
Ed Lincoln nasceu Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia, em Fortaleza. Tocava piano desde cedo, mas foi ganhar a vida como cronista esportivo e carnavalesco do Jornal do Povo. Em 1951, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, e foi trabalhar com o pai no Ministério do Trabalho. Um dia, o amigo Célio o levou para participar de um programa na Rádio Roquete Pinto – lá, deparou-se com pianistas do porte de Johnny Alf, Luís Eça e Sérgio Ricardo (que na época era assinava João Mansur e era conhecido por um estilo abundante de arpejos). Diante da concorrência, Ed decidiu-se a passar para o contrabaixo, que nunca tinha tocado antes – aprendeu no susto, colando adesivos com as notas no braço do instrumento.

A opção vingou. Logo, estava tocando na banda de Dick Farney. "Solava Body & Soul em ré bemol", gaba-se. O irmão de Dick, Cyll, que era galã da Atlântida, ainda conseguiu mais uma ocupação para Ed: figurante, como maestro, nas cenas de orquestra das chanchadas. O músico levava toda a sua turma para fazer figuração também: não se espante quem achar Geraldo Vandré tocando trombone em cena de algum esquecido filme. Com Luís Eça e Paulo Ney (violão), Lincoln formou em seguida o Trio Plaza, que se apresentava no Hotel Plaza, em Copacabana, e gravou um disco para o selo Rádio, de Petrópolis.

Os trabalhos como pianista seguiram paralelamente nos anos 50: Ed gravou com os então iniciantes bossanovistas Claudette Soares e Baden Powell, acompanhou Dolores Duran e fundou seu próprio grupo de música dançante. Certa vez, foi convidado para substituir Sérgio Ricardo na banda do organista Djalma Ferreira, que se apresentava na boate de sua propriedade, o Drink. Acabou virando o titular.

Revelacão em novo instrumento
Sua passagem para o órgão se deu de maneira trágica e inesperada: certa noite teve que substituir Djalma, que havia sido baleado. "Não sabia nem como ligar aquela coisa", conta Ed. Mesmo tremendo de nervoso, ele foi em frente e, na noite inaugural, convenceu até um dos mais implacáveis críticos de jazz, Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte-Preta, que o saudou na manchete de sua coluna: "Lincoln, de ponta a ponta o melhor", parafraseando slogan de uma marca de cigarros.

No começo dos anos 60, a fama do organista se espalhou e ele foi convidado para gravar seu primeiro disco, Ao Teu Ouvido, pelo selo Helium. Nesse momento, ocorreu o batismo: Eduardo virava Ed. Os discos e os bailes se seguiram, com muito sucesso. O seu conjunto, fundado com a ajuda do amigo Ramalhete, gravou uma série antológica de LPs pela Musidisc, que foi brevemente interrompida em 1963, por um acidente de carro que o deixou paralisado por sete meses (durante os quais foi substituído nos bailes pelo garoto prodígio Eumir Deodato).

Em 1964, mais uma vez com o apoio de Ramalhete, o músico retomou suas atividades com o LP A Volta. Em 68, estava partindo para a produção independente com a Savoya Discos. Em sua banda dessa época, foram revelados talentos como o trompetista Cláudio Roditi e o cantor Toni Tornado.

Com o sucesso dos discos da Savoya (entre eles, o do grupo Os Lobos, do cantor e compositor Dalto, que estouraria no começo dos 80), Ed ganhou dinheiro suficiente para passar quatro meses de 1970 nos Estados Unidos. Em Los Angeles, conheceu os estúdios de Sérgio Mendes e decidiu montar o seu, nos mesmos moldes, no Rio de Janeiro. Lá – o mesmo estúdio que tem até hoje – seguiu produzindo e revelando nomes como o trompetista Márcio Montarroyos e o cantor Emílio Santiago. Os bailes, só retomou nos anos 80. "Mas já não era a mesma coisa", lamenta.

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