Velhas guardas do samba em alta
O selo Nikita lança três discos de Portela e Mangueira antes restritos ao Japão, a Conspiração Filmes prepara documentário, shows no Rio promovem grupos menos badalados, como Império e Salgueiro. E um Grammy pode vir para uma das velhas guardas
Nana Vaz de Castro
06/09/2000
Esqueça por um instante as popozudas, os grupos teens, os pagodeiros de butique. A moda agora é outra. Trata-se de uma turma que normalmente seria enquadrada como "terceira idade", mas que está trazendo verdadeira renovação no cenário musical brasileiro. As velhas guardas do samba estão cheias de novidades.
No Rio, o projeto Rio Velha Guarda vem levando ao palco do Espaço Cultural Sérgio Porto os conjuntos formados por sambistas antigos de quatro grandes escolas. Já se apresentaram – lotando a casa com um público essencialmente jovem – as velhas guardas do Salgueiro e da Portela, e nas próximas semanas acontece a estréia da recém-criada Velha Guarda do Império Serrano e a apresentação da tradicional Velha Guarda da Mangueira. Esta última, aliás, embarca segunda-feira, dia 11, para Los Angeles, por conta da indicação do disco Velha Guarda da Mangueira e Convidados na categoria Melhor Álbum de Samba do Ano do prêmio Grammy Latino. Tudo isso depois de uma bem-sucedida temporada pela Europa, que incluiu shows na Alemanha e Áustria – onde tocaram ao lado do astro cubano Compay Segundo, de 92 anos de idade.
Tudo Azul, o disco da Velha Guarda da Portela produzido por Marisa Monte (mais de 30 mil cópias vendidas), também está indicado para o Grammy Latino na mesma categoria. E os distintos senhores e senhoras de Oswaldo Cruz também fizeram sucesso no velho continente, deixando os franceses do Parc de la Villete sambando em junho. É o caminho que a Velha Guarda do Império, novata do grupo, pretende seguir, segundo seu organizador, Wilson das Neves. "Estamos começando agora, quem sabe não conseguimos viajar também?", pergunta o mestre, adiantando que o repertório da VG do Império incluirá, além de samba, jongo e caxambu, ritmos tradicionais da Serrinha.
Pelo lado fonográfico, o selo Nikita Music – que lançou em 99 Velha Guarda da Mangueira e Convidados – prevê para outubro o lançamento de dois discos importantes da década de 80, até então exclusivos do mercado japonês, com as velhas guardas da Portela e Mangueira. Para o tardio lançamento no Brasil, serão adotados novos títulos: Doce Recordação (Portela) e Mangueira Chegou.
E não é só isso. Sai na mesma fornada o CD Velhas Companheiras, gravado no final de 1999 também para o Japão. "Velhas companheiras" é como as escolas tradicionais costumam tratar umas às outras, e serviu de título para o disco que reuniu Nelson Sargento, Monarco e Guilherme de Brito, três dos mais tradicionais bambas em (plena) atividade, que contam ainda com o reforço luxuoso de Cristina Buarque, as pastoras da Portela e Wilson Moreira. "Estamos querendo investir nesse nicho do mercado", diz o diretor da Nikita, Felippe Llerena.
Distorções
E por falar em Wilson Moreira, depois do recente lançamento – com mais de dez anos de atraso – de seu disco Okolofé no Brasil, a Musicazes (empresa de exportação e importação do percussionista Beto Cazes) quer trazer o primeiro disco individual do sambista, Peso na Balança, que existe em LP no Japão e está saindo agora em CD. Por uma das distorções da indústria cultural, o CD deve ser importado do Japão para o Brasil.
Outro relançamento foi o do primeiro disco do portelense Monarco, de 1976, intitulado apenas Monarco (clique aqui para ler a crítica). O álbum – que contém pérolas como O Quitandeiro (com Paulo da Portela) e Lenço (com Francisco Santana) – lançou o já então consagrado compositor de Oswaldo Cruz como intérprete, carreira que segue fielmente até hoje, à frente da Velha Guarda da Portela. Monarco, o disco, também foi previamente negociado com a Musicazes, que o lançou no Japão. "Às vezes o mais difícil é convencer as gravadoras a relançarem o material que elas têm em acervo. Passei quatro anos tentando negociar esse do Monarco", afirma Cazes.
Com inevitáveis referências ao sucesso dos velhos compositores cubanos levados às telas de todo o planeta pelo filme Buena Vista Social Club, do alemão Wim Wenders, a Conspiração Filmes (produtora de longas-metragens, comerciais, videoclipes e home pages), aproveitando o boom das velhas guardas, decidiu aumentar o enfoque de um documentário que faria sobre a Velha Guarda da Portela. Agora, será um filme sobre a velha guarda do samba em geral, enfocando os antigos sambistas, e não os conjuntos organizados de velhas guardas. O projeto, encabeçado por Lula Buarque e Carol Jabor, tem o título provisório de Velha Guarda do Samba.
Por seu lado, a Giros Produções acompanhou a Velha Guarda da Mangueira na turnê européia e agora vai aos Estados Unidos finalizar o documentário que faz sobre o grupo. O produtor mangueirense Josimar Monteiro promete uma produção de altíssima qualidade para o próximo disco – a ser lançado de preferência ainda este ano. "Temos que investir na velha guarda. O último disco foi feito com apenas oito mil reais; queremos que o próximo seja feito com oitenta mil. A velha guarda pode vender um milhão de cópias, por que não?"
No Rio, o projeto Rio Velha Guarda vem levando ao palco do Espaço Cultural Sérgio Porto os conjuntos formados por sambistas antigos de quatro grandes escolas. Já se apresentaram – lotando a casa com um público essencialmente jovem – as velhas guardas do Salgueiro e da Portela, e nas próximas semanas acontece a estréia da recém-criada Velha Guarda do Império Serrano e a apresentação da tradicional Velha Guarda da Mangueira. Esta última, aliás, embarca segunda-feira, dia 11, para Los Angeles, por conta da indicação do disco Velha Guarda da Mangueira e Convidados na categoria Melhor Álbum de Samba do Ano do prêmio Grammy Latino. Tudo isso depois de uma bem-sucedida temporada pela Europa, que incluiu shows na Alemanha e Áustria – onde tocaram ao lado do astro cubano Compay Segundo, de 92 anos de idade.
Tudo Azul, o disco da Velha Guarda da Portela produzido por Marisa Monte (mais de 30 mil cópias vendidas), também está indicado para o Grammy Latino na mesma categoria. E os distintos senhores e senhoras de Oswaldo Cruz também fizeram sucesso no velho continente, deixando os franceses do Parc de la Villete sambando em junho. É o caminho que a Velha Guarda do Império, novata do grupo, pretende seguir, segundo seu organizador, Wilson das Neves. "Estamos começando agora, quem sabe não conseguimos viajar também?", pergunta o mestre, adiantando que o repertório da VG do Império incluirá, além de samba, jongo e caxambu, ritmos tradicionais da Serrinha.
Pelo lado fonográfico, o selo Nikita Music – que lançou em 99 Velha Guarda da Mangueira e Convidados – prevê para outubro o lançamento de dois discos importantes da década de 80, até então exclusivos do mercado japonês, com as velhas guardas da Portela e Mangueira. Para o tardio lançamento no Brasil, serão adotados novos títulos: Doce Recordação (Portela) e Mangueira Chegou.
E não é só isso. Sai na mesma fornada o CD Velhas Companheiras, gravado no final de 1999 também para o Japão. "Velhas companheiras" é como as escolas tradicionais costumam tratar umas às outras, e serviu de título para o disco que reuniu Nelson Sargento, Monarco e Guilherme de Brito, três dos mais tradicionais bambas em (plena) atividade, que contam ainda com o reforço luxuoso de Cristina Buarque, as pastoras da Portela e Wilson Moreira. "Estamos querendo investir nesse nicho do mercado", diz o diretor da Nikita, Felippe Llerena.
Distorções
E por falar em Wilson Moreira, depois do recente lançamento – com mais de dez anos de atraso – de seu disco Okolofé no Brasil, a Musicazes (empresa de exportação e importação do percussionista Beto Cazes) quer trazer o primeiro disco individual do sambista, Peso na Balança, que existe em LP no Japão e está saindo agora em CD. Por uma das distorções da indústria cultural, o CD deve ser importado do Japão para o Brasil.
Outro relançamento foi o do primeiro disco do portelense Monarco, de 1976, intitulado apenas Monarco (clique aqui para ler a crítica). O álbum – que contém pérolas como O Quitandeiro (com Paulo da Portela) e Lenço (com Francisco Santana) – lançou o já então consagrado compositor de Oswaldo Cruz como intérprete, carreira que segue fielmente até hoje, à frente da Velha Guarda da Portela. Monarco, o disco, também foi previamente negociado com a Musicazes, que o lançou no Japão. "Às vezes o mais difícil é convencer as gravadoras a relançarem o material que elas têm em acervo. Passei quatro anos tentando negociar esse do Monarco", afirma Cazes.
Com inevitáveis referências ao sucesso dos velhos compositores cubanos levados às telas de todo o planeta pelo filme Buena Vista Social Club, do alemão Wim Wenders, a Conspiração Filmes (produtora de longas-metragens, comerciais, videoclipes e home pages), aproveitando o boom das velhas guardas, decidiu aumentar o enfoque de um documentário que faria sobre a Velha Guarda da Portela. Agora, será um filme sobre a velha guarda do samba em geral, enfocando os antigos sambistas, e não os conjuntos organizados de velhas guardas. O projeto, encabeçado por Lula Buarque e Carol Jabor, tem o título provisório de Velha Guarda do Samba.
Por seu lado, a Giros Produções acompanhou a Velha Guarda da Mangueira na turnê européia e agora vai aos Estados Unidos finalizar o documentário que faz sobre o grupo. O produtor mangueirense Josimar Monteiro promete uma produção de altíssima qualidade para o próximo disco – a ser lançado de preferência ainda este ano. "Temos que investir na velha guarda. O último disco foi feito com apenas oito mil reais; queremos que o próximo seja feito com oitenta mil. A velha guarda pode vender um milhão de cópias, por que não?"