Veteranos e novatos na <i>Casa de Samba 4</i>

Gravações do disco, ontem, na sede da Universal Music, reuniram time que ia das Velhas Guardas da Portela e da Mangueira a novos astros como Dudu Nobre e Waguinho

Silvio Essinger
05/10/2000
"Tem que ser malandro, investir na juventude", ensinava ontem o mestre Dicró, referindo-se a Beto Jamaica (ex-É o Tchan), com quem duetou ontem numa interpretação de seu velho sucesso, Praia de Ramos, na abertura das gravações do volume 4 da Casa de Samba, que aconteceram na sede da gravadora Universal Music, na Barra da Tijuca (Rio). Ao longo de 14 duetos – que reuniram desde as Velhas Guardas da Mangueira e da Portela a novos astros como Dudu Nobre e Waguinho (ex-Os Morenos) – a festa foi das cinco da tarde à meia-noite, com muito chope, petiscos, moças bonitas e animação. Como de praxe, teve muito cantor lendo a letra da música e repetindo seus números para atender às exigências dos produtores do disco, Rildo Hora e Max Pierre. Mesmo assim, Dicró conseguiu lá enfiar seus cacos na engraçadíssima versão de Praia que fez com o astro baiano (que está com seu primeiro disco solo, É de Remexer, É de Rebolar quase chegando às lojas). "Ô governador, tão querendo cimentar a minha praia!", reclamou, ao fim da música. Em papo com os jornalistas, ele voltou a fazer apaixonada defesa da tão poluída praia: "O povo da Baixada só depende de uma condução para ir lá!"

Foto: Betí Niemeyer (21)9977 7089
Dudu Nobre e João Bosco
Foto: Betí Niemeyer
Foto: Betí Niemeyer (21)9977 7089
Noite Ilustrada e Cássia Eller
Foto: Betí Niemeyer
Um dos melhores números da noite foi o de Dudu Nobre e João Bosco em Kid Cavaquinho, parceria de João e Aldir Blanc. A dupla conquistou a platéia só com violão, cavaquinho e vozes. "É uma orquestra de duo", brincou o violonista, que elogiou o "frescor vigoroso" que Dudu trouxe para o samba. Apesar de salgueirense, o cantor Waguinho (que acabou de lançar o CD É Melhor Cê Voltar pra Mim) foi com a Velha Guarda da Portela – e fez bonito no Pagode do Vavá, de Paulinho da Viola. O veterano Walter Alfaiate – que só em 1998 conseguiu lançar seu disco de estréia, Olha Aí – trouxe a mais nova revelação feminina do samba, a cantora Dorina. Eles embarcaram numa onda Elis Regina-Jair Rodrigues em Falso Amor Sincero, de Nelson Sargento, que Walter já havia gravado em Olha Aí. "Esse é um projeto muito importante para quem está no samba", disse Dorina, estreante em Casa de Samba, que em um mês vendeu a primeira tiragem de seu mais novo CD, o independente Samba.com.

Outro dos grandes encontros do disco foi o de Beth Carvalho e Zélia Duncan, traçando cavaco e violão de cordas de aço em 1800 Colinas, de Graça do Salgueiro. Fã de Beth há muito tempo, Zélia contou que essa era a música da cantora que todos em sua casa gostavam. "Foi meu primeiro grande sucesso no samba", lembra Beth, que lança em breve o Pagode de Mesa 2, pela Indie Records. Ela estava preparando um disco só com músicas de Nelson Cavaquinho, quando foi surpreendida pelo convite da gravadora – irresistível já que, pelo contrato, daqui há dois anos terá direito aos masters desse álbum. Assim, Beth não lamenta o adiamento do projeto anterior: "Disco de Nelson tem lugar em qualquer momento." A sambista aproveitou para informar que o projeto Casa de Samba foi inspirado em seu disco Traço de União (1982), onde reuniu parcerias imprevistas como Dona Ivone Lara e Caetano Veloso (Força da Imaginação), Luiz Carlos da Vila e Fátima Guedes (Presente da Natureza), João Bosco e Martinho da Vila (a faixa título). "A idéia era unir o urbano e o suburbano, intérpretes diferentes, mas afinados com o samba", contou.

No Casa de Samba 4 foi revelada a mais nova sambista do pedaço: Cássia Eller. Depois de participar do disco de Guilherme de Brito, ela gravou para o Casa, com Noite Ilustrada, o samba Você Passa e Eu Acho Graça. "Desde que gravei a música do Luiz Melodia (Esse Filme eu Já Vi, no seu último disco, Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo), tenho ouvido muito samba, especialmente na voz de Elis Regina", conta a cantora, que está preparando uns "sambas estilizados" para o seu novo disco, que começa a gravar em fevereiro. Já Noite Ilustrada está voltando com disco pela Trama, que trará músicas como a sua Cadeira de Bar, Beco Sem Saída (de Silvio Caldas) e Perfil de um Sambista (Adauto Santos).

Outro convidado do Casa de Samba que está de volta à cena é Bebeto – ele duetou com a cantora baiana Márcia Freire no samba-rock Meu Amor Chorou. Daqui a duas semanas sai o disco Bebeto ao Vivo (MZA/Universal), gravado em show lotado no Olympo (RJ), com seus sucessos e duas inéditas, Amiga e Reflexão. Também com disco vindo por aí, Mart’nália fez animada participação na nova versão de Arlindo Cruz e Sombrinha para Falange do Erê. O pai da cantora, Martinho da Vila, se juntou a Leila Pinheiro na ralentada, quase bossa, Todos os Sentidos. Zeca Pagodinho pediu uma cerveja para molhar o bico em Judia de Mim, dividida com Sandra de Sá. Caetano Veloso e Roberto Silva foram cool em Juracy e Paula Toller se acertou com Dona Ivone Lara em Nasci Para Sonhar e Cantar. Quem não pôde ir à festa ainda vai ter que esperar um tanto: Casa de Samba 4 ainda não tem data de lançamento.