Violonistas de sete cordas falam sobre Dino

Referência obrigatória para qualquer um que se interesse pelo instrumento, Dino 7 Cordas influenciou gerações de músicos em seus mais de 60 anos de carreira

Nana Vaz de Castro
12/03/2001
Raphael Rabello
"O violão de 7 cordas foi idealizado por ‘Tute’ no início do século XX. Tute era violonista do conjunto ‘Os Oito Batutas’, liderado por Pixinguinha. No estilo ‘choro’, o violão se caracteriza por frases de contraponto geralmente em escala descendente, utilizando-se somente as cordas graves. Daí o nome ‘baixaria’. Tute sentia necessidade de algumas notas mais graves, daí a idéia de colocar uma corda a mais nos bordões. Ele idealizou, desenvolveu e tocou o ‘7 Cordas’ até 1950, quando faleceu. Nesta época o violonista ‘Dino’, integrante do conjunto de Benedito Lacerda, resolveu continuar a idéia de Tute. Ele não só continuou, como criou uma maneira mais técnica e pessoal de tocar, praticamente reinventando o instrumento. Dino foi o principal divulgador do 7 cordas. Influenciou várias gerações de violonistas. Juntamente com Meira formou a mais duradoura dupla de violões do Brasil (45 anos juntos). Eu me situo na mesma dinastia do 7 cordas: De Tute a Dino e Dino a Rafael."

(Texto escrito por Raphael Rabello aos 15 ou 16 anos. Manuscrito gentilmente cedido por sua irmã Luciana Rabello)

Mauricio Carrilho
"Dino deu a maior contribuição no violão de sete cordas. Ele estabeleceu definitivamente o papel dos dois violões na formação regional. Dino começou a tocar o sete cordas na década de 50, e acho que ele foi desenvolvendo essa linguagem, e nos anos 60 estava na auge. Tem uma gravação que eu particularmente considero um divisor de águas. É um disco de 1964, do Altamiro Carrilho, chamado Choros Imortais. No repertório tem muitas músicas do Pixinguinha, sem o Pixinguinha tocando, e o Dino faz o contraponto, de uma maneira que eu considero um marco. Nessa época ele já usava a sétima corda de uma forma mais doce, mais macia, menos metálica."

(Mauricio Carrilho integrou a Camerata Carioca e faz parte d’O Trio, tem um violão Sugyama e é um dos poucos a afinar a sétima corda em si)

Paulão 7 Cordas
"O Dino tem que ser referência porque tocou desde com Francisco Alves até Zeca Pagodinho. Ele moldou o estilo de tocar o instrumento. Como o sete cordas não tem muito método, todo mundo tem que ouvir as gravações dele. Dino tem uma importância fundamental para todos os violonistas. As variações rítmicas que ele faz na baixaria são incríveis, ele nunca faz da mesma forma. Algumas gravações me marcaram, como a de Dama do Cabaré, do Orlando Silva, ou Receita de Samba, do disco Vibrações [Época de Ouro e Jacob do Bandolim]. Quando as pessoas perguntam pra mim como devem estudar violão de sete cordas, eu respondo que devem ouvir Vibrações, Choros Imortais I e II [Altamiro Carrilho] e os dois discos do Cartola da Marcus Pereira. Está tudo ali."

(Paulão 7 Cordas é diretor musical de Zeca Pagodinho e da Velha Guarda da Portela e tem um sete cordas Do Souto e um do luthier José Chagas)

Luiz Otávio Braga
"Fora seu talento inegável no sete cordas, Dino conseguiu criar uma escola curiosa, baseada em audições de seus trabalhos gravados. Sua maior importância é ter fixado profissionalmente o violão de sete cordas no panorama da música brasileira, através de uma maneira de tocar. Dino foi um consolidador da forma através das gravações, nos moldes de uma escola não-oficial, de percepção direta, e assim fixou toda uma escola de choro. Ele é a pessoa que mais entende a função do sete cordas num regional, e é um dos últimos guardiões dessa tradição. Recomendo aos meus alunos que escutem o Vibrações e os discos do Cartola, porque ali o Dino chama para si a responsabilidade. Nesses discos estão todos os códigos para quem quer aprender a tocar o sete cordas."

(Luiz Otávio Braga é professor de violão de seis e sete cordas da Uni-Rio e tem um sete cordas do luthier Sérgio Abreu)

Luis Filipe Lima
"Falar de Dino 7 Cordas é falar da própria história de seu instrumento. Ora, o que define o violão de sete cordas - que tem origem obscura e até hoje ainda não devidamente investigada, ligada provavelmente aos ciganos russos que se reuniam no bairro carioca do Catumbi, em meados do século XIX - não é a corda ‘a mais’, mas sim sua singular maneira de tocar; a principal característica do sete cordas é o emprego das ‘baixarias’, frases de contracanto improvisadas nos bordões e que são utilizadas no samba, no choro e em outros gêneros. Pois Dino é o principal criador desse estilo, ao inventar uma nova e arrojada linguagem para o instrumento, oferecendo-lhe lugar de destaque na música brasileira.

Dino, que já tocava violão desde 1935, passou para o sete cordas apenas em fins de 1952. Foi a partir dessa época que o instrumento se popularizou, e Dino se tornou a mais importante referência para todas as gerações de instrumentistas que vieram depois dele. Quantos e quantos sete cordas pelo Brasil afora, na ausência de um método do instrumento, já não ficaram horas a fio escutando as gravações de Dino e tirando de ouvido suas sensacionais baixarias? Mestre dos mestres, Dino continua sendo nossa principal matriz."

(Luis Filipe de Lima é violonista, autor da tese de doutorado "Comunicação intercultural: o choro, expressão musical brasileira" e tem um sete cordas Do Souto)

Carlinhos 7 Cordas
"Cresci ouvindo as gravações do Dino, sempre querendo trilhar a mesma linha de baixo dele. Ele é um espelho para todos os outros violonistas, de seis ou sete cordas. Foi ele que criou uma linguagem para o sete cordas, que tornou o instrumento mais visto. E o mais incrível é que até hoje vendo ele tocando, parece que ele tem sempre uma carta na manga. Quando você acha que já conhece tudo dele, que já pode prever o que ele vai fazer, ele vai e faz diferente."

(Carlinhos 7 Cordas é integrante do Toque de Prima e tem um sete cordas Do Souto)

Marcello Gonçalves
"Acho que a maior lição do Dino é que ele consegue a façanha de se destacar sem nunca invadir o espaço dos outros instrumentos ou do cantor. Ao contrário, ele os valoriza. Suas gravações são clássicas não só porque ele toca muito bem, mas porque ele faz os outros tocarem e cantarem melhor."

(Marcello Gonçalves é integrante do Trio Madeira Brasil e recentemente gravou um disco com o cavaquinista Henrique Cazes)

Lucas Porto
"Comecei a estudar sete cordas fazendo transcrições do violão do Dino nos discos do Cartola. A importância dele é vital, pois a própria história do instrumento se confunde com a história dele."

(Lucas Porto toca no conjunto Galo Preto e tem um sete cordas do luthier José Chagas)

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