Wagner Tiso casa Tom e Villa-Lobos

Pianista e maestro grava tributo ao vivo, sem público, na Sala Cecília Meirelles. Um DVD com Arthur Moreira Lima e um disco homenageando sambistas mineiros vêm em seguida

Tárik de Souza
26/06/2000
Depois de esquadrinhar as relações do impressionismo de Debussy e Fauré na interseção com a própria caligrafia e a do parceiro Milton Nascimento, o pianista e maestro Wagner Tiso promove com o Rio Cello Ensemble o mesmo crossover entre as obras aparentadas de Tom Jobim e Villa Lobos, "os dois compositores cariocas de que mais gosto", seleciona. O projeto começou no ano seguinte à morte de Jobim, em 1994, e transformou-se em espetáculo que roda o planeta desde então. Seus pousos recentes foram Londres, Copenhague e Madrid, Saragoza, Cartagena e La Coruña, na Espanha.

A próxima parada é na sala Cecília Meirelles dias 10 a 13, onde o aguarda um piano Stenway 3-A e – contrariando os mandamentos do mercado – nenhum público. Este registro anti-ao vivo, digamos assim, troca o ruído de palmas, tosses e exclamações de entusiasmo pela acustica perfeita da sala carioca e seu magnífico piano. No repertório, há pelo lado de Villa, Caicó, Mandu çarará, Bachiana no. 1, Canção de amor, Melodia sentimental. Da parte de Tom, entrarão Eu sei que vou te amar, Por causa de você, Chora coração e possivelmente um medley de clássicos reunindo Se todos fossem iguais à você, Samba do avião, Samba de uma nota só e Garota de Ipanema. Um confronto das duas Modinha, a de Villa e a de Tom, favorece comparações entre mestre e discípulo.

Dia 1º de setembro sai em DVD o especial Multishow que Wagner dividiu com o pianista Arthur Moreira Lima navegando em clássicos da MPB. Wagner, mineiro de Três Pontas, ainda tem outro projeto, este para levantar a bola de conterrâneos: um disco abordando os sambistas mineiros. Mesmo tendo nascido no centro do Rio pelas mãos de parteiras baianas, o velho ritmo paga altos tributos a mineiros da estirpe de Ary Barroso (1903-1964), Alcyr Pires Vermelho (1906-1994), Ataulfo Alves (1909-1969) e Geraldo Pereira (1918-1955), todos celebrados na antologia ao lado de autores mais recentes como João Bosco.