Zeca Baleiro mostra fidelidade ao novo repertório

Compositor maranhense estréia em São Paulo a turnê de Líricas com espetáculo intimista, sem seus antigos sucessos

Tom Cardoso
04/11/2000
A casa de shows Tom Brasil, em São Paulo, estava lotada na sexta-feira à noite para ver a estréia da turnê Líricas, título do último disco do maranhense Zeca Baleiro. Acostumado a tocar em pequenos teatros paulistanos, o compositor talvez tenha sentido dificuldades em lidar com um público mais numeroso e menos homogêneo, pouco familiarizado com o repertório do novo álbum.

Acompanhado de um trio de cordas, formado por Tuco Marcondes (violões, bandolim e guitarra portuguesa), Lui Coimbra (cello) e Rogério Delayon (instrumentos diversos), Zeca mostrou-se retraído ao longo de todo espetáculo, não se sabe se para conservar do clima lírico e intimista do show ou por pura timidez mesmo. Do repertório de Líricas, poucas canções entusiasmaram a morna platéia, caso da excelente versão desplugada de Proibida pra Mim, sucesso do Charlie Brown Jr., de Babylon e de Banguela.

Não que as novas Minha Casa, Balada para Giorgio Armani, Nalgum Lugar, Quase Nada (uma inspirada parceria com Alice Ruiz), Você Só Pensa em Grana, Blues do Elevador e Brigitte Bardot careçam de talento e de apelo popular, mas precisam, e muito, serem trabalhadas num disco ainda muito recente (foi lançado em setembro) e pouco divulgado.

Herdeiro da geração vanguardista e defensor do “biscoito fino para as massas”, a verdade é que Zeca em nenhum momento se sentiu incomodado com a certa indiferença do público, ávido por canções mais conhecidas e populares. Cantou um ou outro sucesso, caso de Lenha e Flor da Pele, mas seguiu fiel ao repertório de Líricas, não deixando praticamente nenhuma canção de fora. Mostrou faro para recriar canções, como a inspirada interpretação de TV a Cabo, do pernambucano Otto, e de Muzak, música de sua autoria e sucesso na voz de Rita Ribeiro.

No bis, enfim, Zeca levantou-se do banquinho e se soltou nas ótimas interpretações de Tem Que Acontecer, do nada comportado Sérgio Sampaio, e de Heavy Metal do Senhor, canção de seu primeiro disco. O maranhense adiantou que dará uma guinada radical em seu próximo projeto – trocará o angelical lirismo por um disco só de músicas eróticas. O público agradece.