COMO É TRISTE DE OLHAR

Provenientes do núcleo musical do Alto José do Pinho, uma das comunidades mais pobres da grande Recife, os rappers do Faces do Subúrbio dão um salto de qualidade neste segundo disco, sem perder a pegada feroz. Zé Brown, Tiger, o baixista Marcelo Massacre, o guitarrista Ony, o baterista Garnizé e o DJ KSB (recém substituído pelo DJ Ló) gravaram tudo em 11 dias no Conservatório de Música de Pernambuco, ambiente atípico para o hip hop do sexteto, repleto de bases pesadas e sombrias e guitarra faiscando no metal. Mas não é só esse tipo de disparo que se ouve no crossover punk/metal/rap da banda. Lembrando que muito antes dos americanos os nordestinos já emitiam suas cantorias à base de ritmo e poesia, o Faces insiste na conexão com os ritmos e as tradições locais, que eles já exploravam no disco de estréia, uma demo de 1997, regravada no ano seguinte. O coco/embolada ressurge poderoso em Butadas, crua à base de voz e pandeiro, um inventário dos mocós da cidade. Já Faces do Aboio (um gênero musical nascido do cântico dos vaqueiros tangendo o gado) é uma intervenção do ás sanfoneiro Abdias no disco. O tema é do próprio, que entoa: "Alerta da solidão/ de quem vive insatisfeito com os defeitos da nação/ perdida sem governância/ na ânsia da escravidão". Aberto por um raro momento lírico (Entre a Vida e a Poesia), Como é Triste de Olhar traz na capa uma foto de crianças no lixão de Peixinhos e utiliza samples de Raul Seixas (Mosca na Sopa) a Roberto Ribeiro (Todo Menino é um Rei). Ataca a selva social do país com a autoridade de quem conhece a outra face (duplo sentido) do real, como asseveram em Coisas que Vêm de Dentro. E os incomodados que se cuidem, como adverte Se Não Gosta, Respeite. (Tárik de Souza)