GUERRA CIVIL CANIBAL

E os Ratos de Porão chegaram ao ano 2000. Nascida quase 20 anos atrás nos subúrbios de São Paulo, a mais célebre banda punk brasileira lança pela Pecúlio Discos (do baterista Boka) o seu 11º disco, Guerra Civil Canibal – na verdade, um EP, com algo mais que 14 minutos de duração. Parece pouco para quem já pôs dois nas lojas discos inteiros de uma vez só (os dois volumes do Feijoada Acidente?, em 1995), mas o que temos aqui deve ser visto como uma prova de sobrevivência. "Eu vi a morte!", urra (como de costume) João Gordo em Obesidade Mórbida Constitucional. Mas desta vez não é de brincadeira: a letra fala do susto que ele teve com uma crise de broncopneumonia que por pouco não o levou para o caixão. A faixa é uma pedrada hardcore que termina com a narração do seu próprio boletim médico. Episódio de humor tão negro quanto o da ilustração escolhida para a capa (urgh!). Guerra Civil Canibal está longe de ser um disco inspirado dos Ratos de Porão. O som não é mais aquele rolo compressor dos tempos de Brasil (1989) e as letras não têm mais aquelas tiradas mórbidas do Gordo (a faixa-título é a que mais chega perto disso – ainda que longe). É mais um disco recreativo, com cover de Sepultura (Biotech is Godzilla), enlouquecida vinheta (A Cola) e uma tiração de sarro com a banda inglesa com a qual os Ratos excursionaram em 1998 (Kill The Varukers). No final das contas, tudo bem. Afinal, como eles mesmos fazem questão de lembrar na contracapa (parodiando os LPs dos anos 70), "disco é cultura". (Silvio Essinger)