LUZ DAS CORDAS - MARCO PEREIRA E HAMILTON DE HOLANDA
Marco Pereira / Hamilton de Holanda (2000)
Crítica
Cotação:
Marco Pereira (violão) e Hamilton de Holanda (bandolim) vêm se apresentando juntos há algum tempo, deixando platéias de todo o Brasil boquiabertas com o entrosamento da dupla. Instrumentistas de vigor técnico e real talento musical (os dois também são compositores e arranjadores), transbordam os limites das 14 cordas (em algumas faixas 15 ou 16, dependendo do violão) neste disco. Fusão de estilos, atacam de choro, samba, frevo, xote com igual sucesso. A abertura, Luz das Cordas, de Marco Pereira, uma faixa de boas-vindas como poucas, é a que mais se destaca em todo o repertório. Começa rubato, com o violão solando livremente até a entrada do bandolim, cauteloso e preciso. Ao longo de seus quase sete minutos de duração, entretanto, a música vai se transformando de tal forma, crescendo, incorporando tremolos e rasqueados até alcançar todo o brilho da pegada típica espanhola do violão, com sua batida e harmonia características, aliadas ao toque virtuosístico. Virtuosismo, aliás, é um termo difícil de ignorar ao ouvir o disco, mas vale ressaltar que não se trata de forma alguma do virtuosismo "circense", das milhares de notas que falam, falam, mas não dizem nada. Ouça-se, a este respeito, a versão de 1 x 0 - clássico dos clássicos do choro, que já mereceu incontáveis gravações -, com inspirados improvisos e arranjo idem (violão, bandolim, cavaquinho e percussões dos ritmistas da Mangueira), ou seja, com algo a acrescentar. Ou ainda o estudo Las Abejas, do paraguaio Agustín Barrios (1885-1944), com um formidável e veloz uníssono entre os dois instrumentos no final. Aliás é pena que não haja mais faixas apenas com violão e bandolim. São apenas três: Luz das Cordas, 50 Anos e Las Abejas. Nada contra a percussão, bateria e contrabaixo que habitam as demais músicas, mas a sonoridade única das cordas merecia ser mais explorada sem outras interferências no disco que, afinal, é de um duo de cordas que por si só basta. Bem conhecida dos violonistas, a peça Lamentos do Morro, do genial Garoto, ganhou um arranjo que começa "power", mas descamba logo em seguida para o mais puro suíngue elaborado sobre o pedal feito pelos bordões. Há ainda uma pequena viagem pelo nordeste brasileiro, que começa em Bate-Coxa, passa pelo frevo Seu Tonico na Ladeira e termina na dobradinha do Rei do Baião, Xote das Meninas e Qui nem Jiló. 50 Anos, de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos - música que corre risco de se tornar hit dos cinqüentões (já foi regravada por Paulinho da Viola e Ângela Rô Rô) - vale a pena pela aula de acompanhamento que Marco dá, mas perde muito sem a letra de Aldir. Já o Ary Barroso relido em Na Baixa do Sapateiro durante seis minutos e meio dá pano pra manga de uma quase micro-suíte, tantos são os climas por que passeia - do samba ao cool jazz. Tudo com a marca do toque cristalino dos dois.
O CD é - inacreditável! - independente, pois até agora nenhuma gravadora se animou em lançá-lo. Para comprar, é só entrar em contato com os músicos por e-mail: marcopereira@alternex.combr ou 2ouro@persocom.com.br(Nana Vaz de Castro)
O CD é - inacreditável! - independente, pois até agora nenhuma gravadora se animou em lançá-lo. Para comprar, é só entrar em contato com os músicos por e-mail: marcopereira@alternex.combr ou 2ouro@persocom.com.br(Nana Vaz de Castro)
Faixas
Qui nem jiló (Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira)