MACALÉ CANTA MOREIRA
Jards Macalé / Moreira da Silva (2001)
Crítica
Cotação:
Herdeiro legítimo do chapéu de malandro do Kid Morengueira, Jards Macalé admite: samba de breque é difícil pra caramba de cantar. Apesar da dificuldade inerente ao estilo, o resultado deste Macalé Canta Moreira é não menos que ótimo, e deixa claro que mais ninguém poderia prestar essa homenagem com tanta propriedade. Além de Macalé, que exibe o jogo de cintura necessário, os arranjadores Vittor Santos, Jayme Vignoli e Moacyr Luz têm grande parte do mérito. Isso porque os arranjos praticamente fazem com que o disco, que reúne 13 músicas em 12 faixas, se torne uma espécie de 2 em 1. Explica-se: Moreira da Silva gravou ao longo de sua carreira, grosso modo, com dois tipos de acompanhamento: o orquestral, de gafieira, e o regional, de choro e samba. Vittor Santos, trombonista, líder de orquestra e arranjador de mão cheia, se encarregou do primeiro "clima" em Piston de Gafieira, Amigo Urso/A Resposta do Amigo Urso, Olha o Padilha, O Rei do Gatilho, Tira o Óculos e Recolhe o Homem e Moreira na Ópera. Luz e Vignoli, um sambista e um chorão, ficaram com a pequena camerata regional em Margarida, Na Subida do Morro, Samba Aristocrático e O Último dos Moicanos. Macalé assina os arranjos do clássico Acertei no Milhar (só com voz e violão, abrindo o disco em inspirada interpretação) e do raro Choro Esdrúxulo, em que conta com uma insólita (e excelente) participação do fagotista Juliano Barboza.
Como não poderia deixar de ser, o humor dá a tônica do disco, pontuando cada faixa. Do "diálogo" entre credor e devedor em Amigo Urso/A Resposta do Amigo Urso ao politicamente incorreto em Na Subida do Morro ("Na subida do morro, me contaram/ que você bateu na minha nega/ Isso não é direito/ Bater numa mulher que não é sua"), passando pelo culto às proparoxítonas de Choro Esdrúxulo ("Sou magnífico, emboladístico/ Pois sou metódico no radiodístico/ Deixo patético o radiofônico/ Sou matemático, num cântico chorístico"), é um disco para se ouvir prestando a máxima atenção para não perder o fio da meada. Zeca Baleiro, um "macalístico" por excelência e influência, participa em Na Subida do Morro, dividindo os breques. Os outros convidados são, muito apropriadamente, Chico Caruso no papel de locutor, e Tim Rescala como sonoplasta das cinematográficas faixas O Rei do Gatilho e O Último dos Moicanos, criações de Miguel Gustavo (vulgo Michael Gustav) que celebrizaram o personagem Kid Morengueira na década de 60 e eternizaram o grito "Cuidado, Moreira!". Destaque também para a única parceria entre Macalé e Moreira, Tira os Óculos e Recolhe o Homem, narrativa de um episódio verídico ocorrido com os dois na década de 70 em Vitória (ES). Bela síntese de uma amizade iniciada quase por acaso - por ocasião de um show para o projeto Seis e Meia, em 1976 - e que pelo visto não tem data para terminar.(Nana Vaz de Castro)
Como não poderia deixar de ser, o humor dá a tônica do disco, pontuando cada faixa. Do "diálogo" entre credor e devedor em Amigo Urso/A Resposta do Amigo Urso ao politicamente incorreto em Na Subida do Morro ("Na subida do morro, me contaram/ que você bateu na minha nega/ Isso não é direito/ Bater numa mulher que não é sua"), passando pelo culto às proparoxítonas de Choro Esdrúxulo ("Sou magnífico, emboladístico/ Pois sou metódico no radiodístico/ Deixo patético o radiofônico/ Sou matemático, num cântico chorístico"), é um disco para se ouvir prestando a máxima atenção para não perder o fio da meada. Zeca Baleiro, um "macalístico" por excelência e influência, participa em Na Subida do Morro, dividindo os breques. Os outros convidados são, muito apropriadamente, Chico Caruso no papel de locutor, e Tim Rescala como sonoplasta das cinematográficas faixas O Rei do Gatilho e O Último dos Moicanos, criações de Miguel Gustavo (vulgo Michael Gustav) que celebrizaram o personagem Kid Morengueira na década de 60 e eternizaram o grito "Cuidado, Moreira!". Destaque também para a única parceria entre Macalé e Moreira, Tira os Óculos e Recolhe o Homem, narrativa de um episódio verídico ocorrido com os dois na década de 70 em Vitória (ES). Bela síntese de uma amizade iniciada quase por acaso - por ocasião de um show para o projeto Seis e Meia, em 1976 - e que pelo visto não tem data para terminar.(Nana Vaz de Castro)
Faixas