OURO NEGRO
Moacir Santos / / Zé Nogueira (2001)
2001
MP,B
325912001312
Crítica
Cotação:
O único possível deslize neste CD duplo produzido por Mário Adnet e Zé Nogueira em reverência a Moacir Santos é seu título - sendo um disco patrocinado pela Petrobrás, Ouro Negro acaba cheirando à piadinha de consumo interno... Tirando isso, fica difícil apontar falhas num projeto feito com tanto esmero e perfeccionismo, mais do que adequados para recriar a musicalidade de Santos.
A intenção de Adnet e Zé era recriar, aos mínimos detalhes, os arranjos das peças originais concebidas pelo criador de Coisas. Para tanto, não foram poupados "recursos humanos": gente como Cristóvão Bastos (piano), Marçal (percussão), Jurim Moreira (bateria), Vitor Santos (trombone) e Bororó (baixo) são alguns dos integrantes do dream team de instrumentistas de Ouro Negro. Tudo saiu, óbvio, no maior dos caprichos. O belo time de músicos faz a cama para a participação de astros ainda maiores da MPB, como Milton Nascimento, Ed Motta, Joyce, João Bosco e Gilberto Gil, que emprestam suas vozes a algumas das canções.
O mergulho então é profundo na música de Moacir. Brasileiro ao extremo (e marcado especialmente pela origem nordestina) mas receptivo a influências do jazz, das trilhas sonoras hollywoodianas e a referências africanas, o estilo de Moacir como compositor é a um só tempo lânguido e vigoroso. E a escolha dos temas de Ouro Negro dá conta de todas as suas facetas.
A riqueza da alternância de climas da peças do influente disco Coisas está presente de forma brilhante: da "procissão" fluida de Coisa nº5 (mais conhecida como Nanã, a versão com letra que fez sucesso com Nara Leão), à sutileza do arranjos das Coisa nº1 e Nº9, chegando à delicada e "atmosférica" Coisa nº2 (talvez a mais jazzistica do lote) e atingindo a apoteose no clima uptempo da Coisa nº6. Outras nuances aparecem em números como Maracatu, Nação do Amor (esta com vocal de Gil), Anon e Maracatucutê - acenos a seu Pernambuco natal, com sabor nordestino - ou Quermesse, tema remanescente de seus tempos de arranjador da Rádio Nacional. Das participações vocais, João Bosco brilha na gingada Oduduá (letra posta por Nei Lopes sobre o tema What's My Name), e Ed Motta transforma Orfeu (Quiet Carnival) praticamente em uma composição sua. Mas com respeito, claro. O fecho emocionado com Bodas de Prata Dourada, dedicada à esposa de Moacir, Cleonice, traz as vozes de Sheila Smith, Muiza Adnet e do próprio Moacir. Toda a honra a ele, então.
(Marco Antonio Barbosa)
A intenção de Adnet e Zé era recriar, aos mínimos detalhes, os arranjos das peças originais concebidas pelo criador de Coisas. Para tanto, não foram poupados "recursos humanos": gente como Cristóvão Bastos (piano), Marçal (percussão), Jurim Moreira (bateria), Vitor Santos (trombone) e Bororó (baixo) são alguns dos integrantes do dream team de instrumentistas de Ouro Negro. Tudo saiu, óbvio, no maior dos caprichos. O belo time de músicos faz a cama para a participação de astros ainda maiores da MPB, como Milton Nascimento, Ed Motta, Joyce, João Bosco e Gilberto Gil, que emprestam suas vozes a algumas das canções.
O mergulho então é profundo na música de Moacir. Brasileiro ao extremo (e marcado especialmente pela origem nordestina) mas receptivo a influências do jazz, das trilhas sonoras hollywoodianas e a referências africanas, o estilo de Moacir como compositor é a um só tempo lânguido e vigoroso. E a escolha dos temas de Ouro Negro dá conta de todas as suas facetas.
A riqueza da alternância de climas da peças do influente disco Coisas está presente de forma brilhante: da "procissão" fluida de Coisa nº5 (mais conhecida como Nanã, a versão com letra que fez sucesso com Nara Leão), à sutileza do arranjos das Coisa nº1 e Nº9, chegando à delicada e "atmosférica" Coisa nº2 (talvez a mais jazzistica do lote) e atingindo a apoteose no clima uptempo da Coisa nº6. Outras nuances aparecem em números como Maracatu, Nação do Amor (esta com vocal de Gil), Anon e Maracatucutê - acenos a seu Pernambuco natal, com sabor nordestino - ou Quermesse, tema remanescente de seus tempos de arranjador da Rádio Nacional. Das participações vocais, João Bosco brilha na gingada Oduduá (letra posta por Nei Lopes sobre o tema What's My Name), e Ed Motta transforma Orfeu (Quiet Carnival) praticamente em uma composição sua. Mas com respeito, claro. O fecho emocionado com Bodas de Prata Dourada, dedicada à esposa de Moacir, Cleonice, traz as vozes de Sheila Smith, Muiza Adnet e do próprio Moacir. Toda a honra a ele, então.
(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
DISCO 1
DISCO 2