OURO NEGRO

Moacir Santos / / Zé Nogueira (2001)

2001
MP,B
Crítica

Cotação:

O único possível deslize neste CD duplo produzido por Mário Adnet e Zé Nogueira em reverência a Moacir Santos é seu título - sendo um disco patrocinado pela Petrobrás, Ouro Negro acaba cheirando à piadinha de consumo interno... Tirando isso, fica difícil apontar falhas num projeto feito com tanto esmero e perfeccionismo, mais do que adequados para recriar a musicalidade de Santos.

A intenção de Adnet e Zé era recriar, aos mínimos detalhes, os arranjos das peças originais concebidas pelo criador de Coisas. Para tanto, não foram poupados "recursos humanos": gente como Cristóvão Bastos (piano), Marçal (percussão), Jurim Moreira (bateria), Vitor Santos (trombone) e Bororó (baixo) são alguns dos integrantes do dream team de instrumentistas de Ouro Negro. Tudo saiu, óbvio, no maior dos caprichos. O belo time de músicos faz a cama para a participação de astros ainda maiores da MPB, como Milton Nascimento, Ed Motta, Joyce, João Bosco e Gilberto Gil, que emprestam suas vozes a algumas das canções.

O mergulho então é profundo na música de Moacir. Brasileiro ao extremo (e marcado especialmente pela origem nordestina) mas receptivo a influências do jazz, das trilhas sonoras hollywoodianas e a referências africanas, o estilo de Moacir como compositor é a um só tempo lânguido e vigoroso. E a escolha dos temas de Ouro Negro dá conta de todas as suas facetas.

A riqueza da alternância de climas da peças do influente disco Coisas está presente de forma brilhante: da "procissão" fluida de Coisa nº5 (mais conhecida como Nanã, a versão com letra que fez sucesso com Nara Leão), à sutileza do arranjos das Coisa nº1 e Nº9, chegando à delicada e "atmosférica" Coisa nº2 (talvez a mais jazzistica do lote) e atingindo a apoteose no clima uptempo da Coisa nº6. Outras nuances aparecem em números como Maracatu, Nação do Amor (esta com vocal de Gil), Anon e Maracatucutê - acenos a seu Pernambuco natal, com sabor nordestino - ou Quermesse, tema remanescente de seus tempos de arranjador da Rádio Nacional. Das participações vocais, João Bosco brilha na gingada Oduduá (letra posta por Nei Lopes sobre o tema What's My Name), e Ed Motta transforma Orfeu (Quiet Carnival) praticamente em uma composição sua. Mas com respeito, claro. O fecho emocionado com Bodas de Prata Dourada, dedicada à esposa de Moacir, Cleonice, traz as vozes de Sheila Smith, Muiza Adnet e do próprio Moacir. Toda a honra a ele, então.

(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência

DISCO 1

1 Coisa nº 5 - Nanã Ouvir
(Moacir Santos)
2 Suk-cha Ouvir
(Moacir Santos)
3 Coisa nº 6 Ouvir
(Moacir Santos)
4 Coisa nº 8 - Navegação Ouvir
(Regina Werneck, Moacir Santos, Nei Lopes)
5 Amphibious Ouvir
(Moacir Santos)
6 Mãe Iracema Ouvir
(Moacir Santos)
7 Coisa nº 1 Ouvir
(Clóvis Mello, Moacir Santos)
8 Sou eu (Luanne) Ouvir
(Moacir Santos, Nei Lopes)
9 Bluishmen Ouvir
(Moacir Santos)
10 Kathy Ouvir
(Moacir Santos)
11 Kamba Ouvir
(Moacir Santos)
12 Coisa nº 9 Ouvir
(Regina Werneck, Moacir Santos)
13 Orfeu (Quiet carnival) Ouvir
(Moacir Santos, Nei Lopes)
14 Amalgamation Ouvir
(Moacir Santos)

DISCO 2

15 Coisa nº 7 (Evocative) Ouvir
(Mário Telles, Moacir Santos)
16 Coisa nº 2 Ouvir
(Moacir Santos)
17 Lamento astral (Astral whine) Ouvir
(Moacir Santos)
18 Maracatu, nação do amor (April child) Ouvir
(Moacir Santos, Nei Lopes)
19 Coisa nº 4 Ouvir
(Moacir Santos)
20 Coisa nº 10 Ouvir
(Moacir Santos)
21 Jequié Ouvir
(Moacir Santos, Aldir Blanc )
22 Oduduá (What´s my name) Ouvir
(Moacir Santos, Nei Lopes)
23 Coisa nº 3 Ouvir
(Moacir Santos)
24 Anon Ouvir
(Moacir Santos)
25 Quermesse Ouvir
(Moacir Santos)
26 De repente, estou feliz (Happly happy) Ouvir
(Moacir Santos)
27 Maracatucutê Ouvir
(Moacir Santos)
28 Bodas de prata dourada Ouvir
(Moacir Santos)
 
OURO NEGRO