PRA FUGIR DA SAUDADE - CÉLIA e ZÉ LUIZ MAZZIOTTI

Zé Luiz Mazziotti / Célia / Paulinho da Viola (2000)

2000
Crítica

Cotação:

Se a personalidade de Paulinho da Viola é marcada pela sua simplicidade e timidez, pode-se dizer que sua obra não é nada tímida. São dezenove discos de carreira, sem contar as participações em grupos como A Voz do Morro e Rosa de Ouro. Ele agora ganha o segundo disco dedicado exclusivamente a sua obra - o primeiro, Só Paulinho da Viola, gravado pelo conjunto Galo Preto em 1994, é totalmente instrumental. Este, Pra Fugir da Saudade, é de dois ótimos e experientes cantores, Célia e Zé Luiz Mazziotti. Os dois conseguem captar a maneira sutil com que Paulinho interpreta suas próprias composições, e vencem com facilidade as 12 faixas que englobam 13 músicas. (Na verdade 14, porque um bom pedaço de Pra Jogar no Oceano aparece depois de Argumento mas inexplicavelmente não vem creditado.) O repertório pesca algumas raridades, como a faixa-título - anunciada também para o próximo disco do parceiro Elton Medeiros - e a dor de cotovelo de Tudo se Transformou. Outra pouco manjada e um dos destaques do disco é o samba sincopadoCadê a Razão (que na gravação original, de 83, é dedicado aos reis das divisões impossíveis, João Bosco, Djavan e Gilberto Gil), defendida com afinco e brilho por Zé Luiz, e que ganha contornos chorísticos graças ao arranjo de Maurício Carrilho. Minhas Madrugadas, primeira música de Paulinho a ser gravada - pela Divina, no disco Elizeth Sobe o Morro - ganha um toque singelo de samba-canção no arranjo de Zé Luiz e Humberto Araújo, com piano, metais, solo de contrabaixo e ainda participação do homenageado. O mais recente sucesso, Timoneiro, do disco Bebadosamba (96) também aparece, destacando a facilidade com que sai a voz de Célia, totalmente à vontade. Há ainda uma bonita leitura soft de Coisas do Mundo, Minha Nega (com que Paulinho arrebanhou o sexto lugar na primeira e única Bienal do Samba, de 68) e um pot pourri de dois "sambas sociais", se assim se pode dizer: Pode Guardar as Panelas ("que hoje o dinheiro não deu") e Pecado Capital. Com arranjos em geral muito adequados, apenas um ou outro desliza um pouco demais na utilização das cordas, quase descaracterizando a obra. Mas na última faixa, Cantoria, a singeleza do cello (Hugo Pilger) redime qualquer equívoco e fecha com chave de ouro. Um ótimo panorama da obra múltipla de Paulinho, feito por músicos e cantores de primeira linha, numa produção caprichada, com um precioso encarte variando entre diversos tons de azul-portela.(Nana Vaz de Castro)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Pra fugir da saudade Ouvir
(Elton Medeiros, Paulinho da Viola)
2 Cadê a razão Ouvir
(Paulinho da Viola)
3 Coração leviano Ouvir
(Paulinho da Viola)
4 Minhas madrugadas Ouvir
(Candeia, Paulinho da Viola)
6 Tudo se transformou Ouvir
(Paulinho da Viola)
7 Coisas do mundo, minha nega Ouvir
(Paulinho da Viola)
8 Argumento Ouvir
(Paulinho da Viola)
9 Pode guardar as panelas Ouvir
(Paulinho da Viola)
Pecado capital (Paulinho da Viola)

10 Só o tempo Ouvir
(Paulinho da Viola)
11 Onde a dor não tem razão Ouvir
(Elton Medeiros, Paulinho da Viola)
 
PRA FUGIR DA SAUDADE - CÉLIA e ZÉ LUIZ MAZZIOTTI