SWEET LADY JANE
Romero Lubambo / Jane Duboc (2002)
Crítica
Cotação:
Jane Duboc parece ter cansado de tentar conseguir pelas plagas nativas o devido reconhecimento a seu talento; voz e interpretação dignas das divas, a cantora já tinha há muito tempo, mas o "pulo do gato" que a colocaria ao nível de uma Gal ou de uma Bethânia parecia sempre eludí-la. Desencanada e orientada por (um cada vez mais internacional) Ivan Lins, Jane apela para o trivial sofisticado neste álbum, concebido para consolidar seu salto ao mercado exterior. Pode muito bem ter conseguido o resultado mais equilibrado de sua carreira. A receita para tanto, não por acaso, é bem aparentada à fórmula que o próprio Ivan vem maturando nos últimos anos. Sweet Lady Jane é um disco de bossa ultracool, que se inspira tanto no brazilian jazz consagrado por gente como Flora Purim, quanto na tradição legada por Jobim & cia. Acima de tudo, a aspiração à classe domina o álbum; o design em preto e branco, os arranjos de cordas macios e sem exageros, a garganta domada da cantora em interpretações extra-sutis. E, claro, o repertório calculadíssimo - Rodgers & Hammerstein se misturando a traduções de Jobim para o inglês (e para inglês ouvir, também). Sobrou beleza, elegância. Faltou, no entanto, a centelha da espontaneidade. Seria absurdo atribuir deméritos ao álbum; mas também não se pode deixar de lamentar, en passant, a decisão de Jane perseguir uma brasilidade abstrata, perfumada, com cara de coisa feita para outros ouvidos.
Como cantora, Jane funciona muitíssimo bem, especialmente nas (poucas) surpresas do disco. Pr'um Samba, composição pouco conhecida de Egberto Gismonti, só teve a ganhar com um arranjo econômico e belo. E também na infalível Pra Dizer Adeus, o arrepio de emoção é inevitável. O mesmo poderia ser dito do par de canções de Jobim (Por Causa de Você e Photograph). Mas aí já estamos no território da tal abstração. O fato de Por Causa de Você ganhar uma segunda versão, com letra em inglês, confirma isso; é Jane injetando americanice na bossa. Sintomático também, mas na outra ponta do processo - a brasilidade contaminando a produção gringa - é o balancim quase, quase brasileiro emprestado a It Might as Well Be Spring. A mesma sensação permeia a audição de If It's Magic, que poderia, digamos, estar na trilha sonora de um desenho animado da Disney - de tão inflada e pomposa. Deixemos clara uma coisa: que não se diga que este é um mau disco. É só um tiquinho desapontador notar que Jane, afinal em pleno controle artístico de sua trajetória (até a gravadora é dela), preferiu a aposta segura do conservadorismo.(Marco Antonio Barbosa)
Como cantora, Jane funciona muitíssimo bem, especialmente nas (poucas) surpresas do disco. Pr'um Samba, composição pouco conhecida de Egberto Gismonti, só teve a ganhar com um arranjo econômico e belo. E também na infalível Pra Dizer Adeus, o arrepio de emoção é inevitável. O mesmo poderia ser dito do par de canções de Jobim (Por Causa de Você e Photograph). Mas aí já estamos no território da tal abstração. O fato de Por Causa de Você ganhar uma segunda versão, com letra em inglês, confirma isso; é Jane injetando americanice na bossa. Sintomático também, mas na outra ponta do processo - a brasilidade contaminando a produção gringa - é o balancim quase, quase brasileiro emprestado a It Might as Well Be Spring. A mesma sensação permeia a audição de If It's Magic, que poderia, digamos, estar na trilha sonora de um desenho animado da Disney - de tão inflada e pomposa. Deixemos clara uma coisa: que não se diga que este é um mau disco. É só um tiquinho desapontador notar que Jane, afinal em pleno controle artístico de sua trajetória (até a gravadora é dela), preferiu a aposta segura do conservadorismo.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas