TRIBALISTAS

Marisa Monte / Carlinhos Brown / Arnaldo Antunes (2002)

2002
Crítica

Cotação:

Se há um mal inerente à essa tal de "nova geração da MPB" é a propensão à pomposidade, a vontade de fazer de toda e qualquer iniciativa um "manifesto", um "evento", um "marco cultural". Essa pretensão poderia afetar e muito uma audição isenta de Tribalistas, projeto concebido em segredo e lançado (e recebido) com salvas de canhão. Não faltou quem visse na tríade Marisa/Arnaldo/Brown uma reedição modernizada da Tropicália, uma versão ano 2002 dos Doces Bárbaros, o melhor disco de todos os tempos da última semana. (Todo esse oba-oba, admita-se, é devido mais aos baba-ovos de plantão do que aos artistas propriamente ditos. Mas eles também têm sua parcela de culpa.) Se apenas pudessemos desfrutar do disco, sem expectativas ou noções pré-formadas, a história seria diferente. Teriamos, apenas, uma cantora que alia talento de compositora com uma boa dose de personalidade (coisa cada vez mais rara entre as cantoras); um veterano egresso do pop-rock que pratica um trabalho experimental autêntico, sem pretensões gratuitas (ainda que sempre sujeito a erros e acertos); e uma incógnita baiana chamada Carlinhos Brown, que alterna demonstrações inequívocas de intuição melódica com presepadas indignas de um artista sério. Os três tinham e têm muito a oferecer em conjunto. Se apenas pudessemos nos ligar na música e mais nada...

O interessante, e contraditório, é que a música de Tribalistas tem pouco ou nada a ver com a mitomania criada em torno do trio. É um disco simples, de instrumentação econômica (mesmo a polipercussividade de Brown está contida assim como sua cabecisse), quase 100% acústico. Se fossemos definir as porcentagens de cada um na somatória final, pode-se dizer que o disco é 65% Marisa (fase Cor de Rosa e Carvão), 25% Brown e 10% Arnaldo. Melodias diretas, cativantes - pop, enfim - pontuam todo o álbum, mais destacadas quando Marisa vem à frente (caso das delicadas É Você e Carnalismo, esta com citação a Cazuza), ou jogando no estranhamento da interpretação de Arnaldo - os melhores exemplos sendo O Amor É Sujo, com letra que remete aos Titãs da fase Tudo ao Mesmo Tempo Agora, e Passe em Casa. Tudo exala suavidade, até mesmo as naturalmente saltitantes Carnavália e Já Sei Namorar (travessa e pop, quase como um, digamos, Pato Fu baiano). Envoltas em tamanha aura de paz na Terra e boa vontade, até as coisas mais despretensiosas - como as singelas e bobas Mary Cristo e Anjo da Guarda - soam extremamente simpáticas. Isto é, se fosse nos permitido ouvir apenas o disco...(Marco Antonio Barbosa)
 
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