VOLTA À GAFIEIRA

Noite Ilustrada / Ângela Maria / Jamelão / Moreira da Silva / Isaura Garcia / Severino Araújo e Orquestra Tabajara (2000)

2000
Crítica

Cotação:

No pacote estranhíssimo que a Atração/Phonodisc está colocando no mercado, reunindo fonogramas do catálogo da extinta Continental, há alguns poucos CDs relevantes. Volta à Gafieira é um deles. São músicas com arranjos ou temática referentes aos grandes bailes de samba de antigamente, com direito a muitos sopros e percussão em primeiro plano. A grande sambista paulista Isaurinha Garcia – que morreu há sete anos e está injustamente esquecida – canta três sambas de Billy Blanco alusivos ao tema: Estatutos de Gafieira, Estatuto de Boite (ambas lançadas por Dolores Duran, nos anos 50) e Piston de Gafieira. Todas deliciosas. Outra diva, Ângela Maria está perfeita em Não Tenho Você (seu primeiro sucesso, de 1951, regravado dez anos depois no LP homônimo que marcou sua breve passagem na gravadora) e a envolvente Só Vives pra Lua, recentemente regravada pela Sapoti em dueto com Ney Matogrosso no CD que ele dedicou à cantora. Num disco como este, é claro que o nosso tenor do samba, Jamelão, não poderia faltar, e ele comparece com uma fossa (Folha Morta – erradamente grafada no plural) e um partido alto (O Samba É Bom Assim). Outro também que não poderia faltar é a Orquestra Tabajara do hoje octogenário Severino Araújo – a mais antiga em atuação, e especialista no gênero gafieirão. Ela comparece com Paraquedista e a sempre divertida Despedida de Mangueira. No mesmo estilo, Leonel e seu Conjunto atacam com a antológica Na Glória. E já que o clima é de Rio antigo, quem melhor que Moreira da Silva para dar uma chegadinha no salão e cantar? O clássico Na Subida do Morro foi o escolhido, com direito a um breque sensacional de mais de um minuto. E diretamente da terra da garoa, Noite Ilustrada vem dar uma canja com Nervos de Aço. Embora composta por um gaúcho – Lupicínio Rodrigues – esta é uma daquelas dores de cotovelo com total clima do Rio de antigamente. Dá para imaginar os Arcos da Lapa ao fundo, as garrafas de cerveja em cima da mesa do bar e uma meretriz na esquina fazendo charme com xale e piteira. O palhaço Risadinha encerra o CD com uma boa versão de A Fonte Secou ("Quero dizer que entre nós/ Tudo acabou") do também ultracarioca Monsueto. Um disco nostálgico e suingado para recordar um tempo que hoje só tem vez nos bailinhos das academias de dança de salão. (Rodrigo Faour)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Estatuto de Gafieira Ouvir
(Billy Blanco)
2 Na Glória Ouvir
(Ary Santos, Raul de Barros)
3 Não tenho você Ouvir
(Ary Monteiro, Paulo Marques)
4 Folhas mortas Ouvir
(Ary Barroso)
5 Paraquedista Ouvir
(José Leocádio)
6 Na subida do morro Ouvir
(Ribeiro Cunha, Moreira da Silva)
7 Estatuto de boite Ouvir
(Billy Blanco)
8 Piston de gafieira Ouvir
(Billy Blanco)
10 O samba é bom assim Ouvir
(Norival Reis, Helio Nascimento)
11 Despedida de Mangueira Ouvir
(Aldo Cabral, Benedito Lacerda)
12 Só vives prá lua Ouvir
(Othon Russo, Ricardo Galeno)
13 Nervos de aço Ouvir
(Lupicínio Rodrigues)
 
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